sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Manifesto pró - Mariguella - UMA EXPLICAÇÃO.
OS COMENTÁRIOS PERMANECERÃO EM RESPEITO AOS MEUS LEITORES.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Mas quem fica chamuscada é a Bandeira do Brasil
Aqui tentaram um terceiro
Porém Lula disse não
Certamente teve medo
De uma grande reação
De quem sempre respirou
Sopros de renovação.
IV
Quem enfrentou ditadura
Passou a vida a sofrer
Pra que o Brasil tivesse
Alternância de poder
Ambição de algum caudilho
Não poderá defender.
V
Chaves na Venezuela
Zelaya quis imitar
Correia no Equador
Que no poder quer ficar
E Morales na Bolívia
Que é mestre em calotear.
VI
Quando Zelaya em Honduras
Com aquele chapelão
Disse que queria ficar
Mudar Constituição
O Supremo o acusou
De cometer traição.
VII
De uma lapada só
Sem ter dó nem ter clemência
Botaram Zelaya pra fora
Chega sentiu uma ardência
E o presidente da Câmara
Assumiu a Presidência.
VIII
Nas ruas de Tejucicalpa
Houve manifestação
Com o povo protestando
Contra a deposição
Querendo Zelaya de volta
No Governo da Nação.
IX
Uma parte dos hondurenhos
Que é contra a reeleição
Também saiu para as ruas
Provocando confusão
Defendendo a cláusula pétrea
Que há na Constituição.
X
Zelaya pediu a Lula
Ajuda para voltar
Depois de quatro lapadas
De cachaça Paladar
Lula se encheu de coragem
E prometeu ajudar.
XI
Junto com Jorge Ferreira
Que levou a feijoada
Um tutuzinho à mineira
E uma boa costela assada
Plano Zelaya foi traçado
Às quatro da madrugada.
XII
Marco Aurélio apareceu
Comendo mamão papaia
Ainda fez top-top
Pra uma moça de Itatiaia
E disse assim, num rompante:
Sou eu que levo Zelaya.
XIII
Saíram aqui do Brasil
Vestiram Zelaya de freira
Chegaram em El Salvador
Atravessaram a fronteira
E de manhazinha entraram
Na Embaixada Brasileira.
XIV
Dali atiçaram o povo
O tiroteio começou
Top-top não é besta
Pulou o muro e vazou
E o vestido de freira
Ninguém por lá encontrou.
XV
Dizem que viram uma freira
Com uma manta azul
E uma barba grisalha
Degustando uma Caracu
Atravessando a fronteira
Com o Mato Grosso do Sul.
XVI
Enquanto isso em Honduras,
Fala mais alto o fuzil:
Cada um quer o poder
Para encher o seu barril
de riquezas confiscadas,
Mas quem fica chamuscada
É a Bandeira do Brasil!
Via Claudio Humberto
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
AS APARÊNCIAS OFUSCANDO A VERDADE
AS APARENCIAS OFUSCANDO A VERDADE
1. INTRODUÇÃO
A imagem de militares invadindo a casa de um presidente legitimamente eleito, sua detenção e imediata expulsão do país, reveste-se de todos os ingredientes de algo que, hoje em dia, causa forte repugnância na comunidade internacional. Difícil de explicar, quase impossível de justificar.
O quadro de um golpe de Estado patrocinado por militares está tão bem pintado, e reflete tão claramente, que se torna desnecessário, para muitos, fazer um esforço em ver a cena de outro ponto de vista, o que ofusca a verdade. Em nome dela, e por acreditar que realmente nem sempre os fatos falam por si mesmos, vou me atrever a mostrar esta mesma imagem desde outro ângulo.
Definitivamente, o que aconteceu em Honduras (e segue acontecendo) não guarda relação com o que se noticia na imprensa internacional. Se realmente conceitos tais como autodeterminação dos povos e soberania têm algum significado - e estão acima do pragmatismo que rege a relação entre os Estados - talvez valesse a pena o esforço em enxergar a cena descrita no primeiro parágrafo sob a ótica dos demais poderes do Estado de Honduras, de sua Constituição e, principalmente, da grande maioria do seu povo.
2. O GIRO À ESQUERDA DE ZELAYA
Eleito pelo tradicional Partido Liberal de Honduras, Manuel Zelaya assumiu a presidência em janeiro de 2006. O primeiro ano e meio de governo foi marcado por algumas medidas louváveis na esfera social e pela aproximação do mandatário com as classes menos favorecidas. Mesmo nesse período, já se falava da grande desorganização administrativa e do altíssimo grau de corrupção do seu governo, o que redundou em uma completa desestruturação das contas públicas.
A crise mundial de alimentos e o elevado preço alcançado pelo barril de petróleo colocaram o governo de Zelaya à beira de um colapso. Sua tábua de salvação não tardou a surgir. Para um país que tem 80% de sua matriz energética baseada no petróleo, a generosa oferta que Chávez lhe fazia, por meio da PETROCARIBE, era mesmo tentadora: petróleo garantido, pagamento de 50% no ato da compra e os outros 50% num prazo de 20 anos.
Da PETROCARIBE até a adesão à ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da América) o caminho foi curto. Em 25 de agosto de 2008, pode-se dizer que começou uma segunda fase do governo Zelaya. Após forte resistência do Congresso Nacional, resistência essa vencida pela compra de consciências com petrodólares venezuelanos, Honduras tornou-se o mais novo membro do organismo de expansão do chamado “Socialismo do Século XXI”.
A partir de então, Chávez passou sua conta e ocorreu o que a imprensa denominou de “giro à esquerda”. Rompendo com o programa partidário que o elegeu, e para surpresa de muitos, Zelaya proclamou-se de esquerda. Adotou um discurso ofensivo contra o “imperialismo usurpador norte-americano”, trazendo pânico aos mais de 800.000 mil hondurenhos que vivem nos Estados Unidos e as suas famílias, que dependem das remessas para sobreviverem. Atacou sistematicamente o que chama de grupos de poder, numa referência às famílias que historicamente dominaram a política de Honduras, sem se importar com o fato de ele mesmo ser aparentado de uma delas.
3. OS PRIMEIROS PASSOS CONTRA UMA CONSTITUIÇÃO BLINDADA
No início de 2009, Zelaya lançou a idéia de um plebiscito, a fim de promover reformas na Constituição e perpetuar-se no poder, seguindo a mesma estratégia vitoriosa no Equador e na Bolívia, constante da cartilha de Chávez. Esse plebiscito passou a ser conhecido como “quarta urna”, numa referência às três outras já existentes nas eleições ordinárias, onde o povo vota em prefeitos, deputados e no presidente da República.
Para atingir seus objetivos, Zelaya implementou ações importantes. Em janeiro, visando a conquistar definitivamente a classe trabalhadora, numa medida claramente populista, que ignorou o delicado estado das finanças do país, majorou o salário mínimo em 60%.
Em fevereiro, efetuou mudanças em seu Gabinete. A mais importante delas consistiu na nomeação do Chanceler Edmundo Orellana Mercado, respeitado jurista e amigo de seu círculo mais íntimo, para a pasta da Defesa e sua substituição na chancelaria pela Sra. Patricia Rodas Baca, conhecida por suas posições de extrema esquerda e admiradora declarada de Chávez.
No âmbito das Forças Armadas, tomou uma medida inusitada ao ordenar a substituição do Comandante do Exército, General José Rosa Doblado Padilla, a pretexto de nomeá-lo embaixador em Israel. Sem margem a dúvidas, o General Doblado era a liderança militar de maior prestígio, pessoal e profissional, junto à tropa e junto à oficialidade, conhecido por sua retidão de caráter e apego às instituições. Certamente um obstáculo para as pretensões continuistas do presidente. Ainda hoje, o general aguarda em casa as providências para a sua acreditação junto ao governo israelense.
Logo Zelaya percebeu que a cartilha de Chávez não trazia soluções muito claras para um presidente desgastado, já nos seus últimos meses de mandato, imerso em denúncias de corrupção e de associação com o tráfico de drogas e com a influência diminuída pela definição dos dois principais candidatos às eleições presidenciais de novembro, Pepe Lobo e Elvin Santos, respectivamente candidatos pelo Partido Nacional e Liberal.
Também a cartilha chavista não apontava caminho para um impasse constitucional, característico das leis de Honduras, que ainda não havia se apresentado nas experiências anteriores. A Carta Magna de Honduras pode ser alterada em 97% dos seus 375 artigos pelo próprio Congresso Nacional.
Artigo 373: “A reforma da Constituição poderá decretar-se pelo Congresso Nacional, em sessão ordinária, com dois terços dos votos da totalidade dos seus membros”.
Existem, porém, algumas poucas cláusulas pétreas que não podem ser objetos nem mesmo de discussão, constituindo delito de traição à pátria o simples fato de propor sua revisão. A reeleição é uma delas. A Constituição de Honduras chega a ser redundante ao abordar o tema. Senão vejamos:
Artigo 374: “Não poderão ser reformados, em nenhum caso, o artigo anterior, os artigos constitucionais que se referem à forma de governo, território nacional,período presidencial, proibição para ser novamente presidente da república...” (grifo do autor)
Artigo 4: ...A alternabilidade no exercício da Presidência da República é obrigatória. A infração desta norma constitui delito de traição à Pátria. (grifo do autor)
Artigo 239: “O cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não poderá ser Presidente ou Designado. Aquele que ofender esta disposição ou propuser sua reforma, bem como aqueles que a apóiem direta ou indiretamente, terão cessado de imediato o desempenho de seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de toda função pública”. (grifo do autor)
Aceito que tais artigos possam parecer pouco usual. Mas assim está definido por decisão soberana do povo hondurenho. Juridicamente, não há espaço para a convocação de uma Assembléia Constituinte. No caso de Honduras, a Constituição encontra-se blindada contra pretensões de continuismo, justamente como reação aos inumeráveis golpes de Estado e ditaduras pelas quais atravessou o país.
4. O DESENROLAR DA CRISE INSTITUCIONAL
Apesar dos cadeados constitucionais já assinalados, no dia 23 de março, em conselho de ministros, o presidente Zelaya emitiu o decreto Executivo PCM-005-2009, mediante o qual convocava uma consulta popular, cujo fim último era o estabelecimento de uma Assembléia Nacional Constituinte para formular uma nova Carta Magna, o que permitiria a eliminação de cláusulas pétreas.
Houve toda classe de reação contrária: o Colégio de Advogados de Honduras, Poder Judiciário, Ministério Público, Procuradoria Geral da República, Comissionado Nacional dos Direitos Humanos, Tribunal Superior Eleitoral, Comissão Nacional de Anticorrupção, Partidos Políticos, Igreja Católica, Igrejas evangélicas, Associação Nacional de Indústrias e Sociedade Civil.
A partir deste ponto, as opiniões se polarizaram e a crise institucional teve seus contornos delineados. De um lado, o presidente Zelaya e seus seguidores, mormente autoridades do governo, funcionários em cargos de confiança e organizações sindicais e campesinas que fomenta, custeia e orquestra em todo país, inclusive depondo suas estruturas dirigentes, quando o logra, ou criando entidades paralelas, quando nas existentes se mantêm diretorias que lhe são hostis.
De outra parte, começou a aglutinar-se uma ainda desestruturada oposição, abrangendo os dois candidatos às eleições presidenciais de novembro, personalidades civis, como o Arcebispo de Tegucigalpa, vários dos mais proeminentes líderes empresariais, magistrados de várias cortes, a promotoria pública, até advogados que teriam sido consultados pelos governistas, o ex-presidente Ricardo Maduro (a quem Zelaya sucedeu), órgãos influentes da imprensa, etc.
Em 08 de maio, o Ministério Público iniciou uma ação judicial ante o Tribunal de Letras do Contencioso Administrativo contra o Decreto Executivo de 23 de março. Em 20 de maio, a própria Procuradoria do Estado aderiu à dita iniciativa e posicionou-se contra as intenções de Zelaya.
Antes de o Tribunal revelar seu veredito, mais precisamente no dia 14 de maio, Zelaya preparou uma grande festa na Casa Presidencial para o lançamento oficial da "Frente Patriótica de Defesa da Consulta Popular e da Quarta Urna", “dentro do processo de convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte que elaborará a nova Constituição da República”. Na oportunidade, definiu-se a data da consulta, 28 de junho.
Para a cerimônia de anúncio foram convocados funcionários do governo até o terceiro nível, inclusive órgãos de administração indireta e autarquias. O comparecimento não foi apenas mandatório: cada pessoa convocada, obrigatoriamente, teria de trazer consigo outras três quaisquer. Mas nem tudo foi festa. Segundo observadores e comentaristas políticos, de certo modo foi uma demonstração de fraqueza do presidente Zelaya, posto que não conseguiu ali reunir qualquer liderança popular notoriamente importante.
Revelando considerável inabilidade no trato do assunto, o governo teve de reconhecer que mandara vir a Honduras o perito espanhol em matéria de direito constitucional Rubén Dalmau, que assessorou a Evo Morales e a Rafael Correa na elaboração das novas Constituições boliviana e equatoriana. Sua missão aqui, aconselhada por Chávez a Zelaya, seria a de preparar o projeto de uma nova Carta Magna que o Presidente apresentaria à Constituinte, “para facilitar e focalizar suas deliberações e expeditar o processo”.
O plano de Zelaya também previa o enfraquecimento das demais instituições do Estado. No referente ao Congresso, o governo buscou neutralizá-lo, enquanto não lograva sua completa reforma – “quem não votar pela quarta urna não será reeleito”, afirmava e reafirmava o presidente e seus porta-vozes.
O repasse de verbas ao Legislativo foi reduzido ao mínimo para pagar os salários de seus funcionários, dificultando o seu funcionamento normal. Mais que isto, a proposta de orçamento de 2009, que deveria ser enviada ao Congresso em setembro de 2008, nunca foi encaminhada para aprovação. Com essa manobra, Zelaya evitava a verificação pelos deputados do mau estado das contas públicas, com a receita em queda, como também impedia que os congressistas opinassem sobre a maneira com que o governo financiava suas atividades promocionais da “quarta urna”, graças a um dispositivo que lhe permitia aplicar o orçamento do ano anterior, enquanto o Legislativo não votasse o do ano em curso.
Apesar da crise que atingia Honduras impiedosamente, o governo gastava tudo que podia em vasta campanha midiática em prol da “quarta urna” e em atividades afins por todo o país (a comissão que investiga os gastos do governo deposto contabilizou um dado parcial de 40 milhões de dólares). Por outro lado, não foram repassados recursos de contrapartida para manter atividades de cooperação bilateral e multilateral, como afirmou o Representante Permanente da União Européia, publicando extensa matéria paga em nome do Grupo dos 16 (constituído por todos os principais países doadores a Honduras). Não foram repassados recursos para o Tribunal Superior Eleitoral começar a organizar as eleições de novembro, nem para o Registro Nacional das Pessoas (RNP), órgão a quem compete proceder ao registro dos eleitores. Muitos outros compromissos deixaram de ser honrados: cerca de um quinto dos municípios não receberam o repasse obrigatório de recursos. Ficou claro que os municípios não contemplados eram justamente aqueles cujos prefeitos não haviam se incorporado ao projeto de Zelaya.
5. A REAÇÃO DOS DEMAIS PODERES DO ESTADO
No dia 27 de maio, o Tribunal de Letras do Contencioso Administrativo suspendeu todos os efeitos do Decreto Executivo PCM-005- 2009, por haver sido considerado inconstitucional. Buscando manter a legalidade no país, o Tribunal proibiu qualquer tipo de publicidade a respeito do assunto e, antecipadamente, emitiu um parecer considerando ilegal qualquer outra iniciativa do governo dedicada à implantação de uma consulta popular que tenha por finalidade instalar uma Assembléia Constituinte.
Apesar da decisão judicial, Zelaya seguia obstinado e, em claro desafio ao Tribunal, ordenou que a publicidade relacionada à “quarta urna” não fosse interrompida nos meios oficiais de comunicação.
Pressionado de todos os lados, o governo admitiu a ilegalidade do Decreto Executivo PCM-005-2009. Resolveu, então, apresentar um novo decreto (que não foi publicado até as vésperas da consulta, para evitar novo posicionamento por parte do Judiciário) com os mesmos vícios constitucionais, o PCM-019-2009. Basicamente, o novo decreto apresentado trocou a palavra “consulta” por “pesquisa” popular.
A finalidade da nova disposição era igual ao da anulada, quer dizer, fazer uma consulta nacional para responder à seguinte questão: “Está você de acordo que nas eleições gerais de novembro de 2009 se instale uma quarta urna para decidir sobre a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte que emita uma Nova Constituição da República? Sim ou Não”, segundo o artigo 1°.
O artigo 2° instrui às distintas instituições do Estado, centralizadas e descentralizadas, para que executem ativamente todas as tarefas que lhes sejam encomendadas para a realização da pesquisa.
As Forças Armadas que, até então, mantinham-se afastadas do conflito político, viram-se atraídas para o campo de disputa, uma vez que receberam ordem explicita, também por meio de um decreto presidencial, para apoiar logisticamente todas as atividades destinadas à consulta popular.
A Instituição Armada passou a ser alvo de forte pressão por parte de diferentes setores, que exigiam que a mesma não aceitasse participar de uma atividade claramente inconstitucional. As pressões não eram sem razão, uma vez que, por lei, as Forças Armadas são garantes da Constituição.
Artigo 272: “As Forças Armadas de Honduras são uma instituição nacional, de caráter permanente, essencialmente profissional, apolítica, obediente e não-deliberante” .
“Se constituem para defender a integridade territorial e a soberania da República, manter a paz, a ordem pública, o império da Constituição, os princípios de livre sufrágio e a alternabilidade no exercício da presidência da República”. (grifo do autor)
Além disso, o mutismo da Instituição a respeito da ordem recebida, associada às conhecidas boas relações que a Junta de Comandantes mantinha com o presidente, gerou um clima de desconfiança a respeito do posicionamento das Forças Armadas em relação à ordem recebida.
O Ministro da Presidência, Enrique Flores Lanza, negava-se a dizer quando seria publicado em Diário Oficial o novo decreto (PCM-019-2009), para que o mesmo se convertesse em lei de cumprimento obrigatório. Por outro lado, assegurava que enquanto isso não ocorresse, as instituições do Poder Executivo deveriam obedecê-lo, “em razão de se estar em um regime presidencialista”.
Na noite de 24 de junho, fortemente pressionado, o Chefe do Estado-Maior Conjunto, General de Divisão Romeo Orlando Vásquez Velásquez, comunicou ao presidente da República que, por impedimento judicial, as Forças Armadas não poderiam apoiar logisticamente a pesquisa popular.
Às 21h 55min, Zelaya, em cadeia de rádio e televisão, anunciou a destituição do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e a aceitação da renúncia do Ministro da Defesa. O Ministro Orellana, apesar de dileto amigo de Zelaya, já havia se convencido sobre a ilegalidade da consulta. Em solidariedade ao General Vásquez, os três comandantes de Força - Exército, Marinha e Aeronáutica – renunciaram aos seus comandos.
No mesmo pronunciamento, o presidente convocou sua base de apoio, conformada por movimentos sociais, a uma reunião na Casa Presidencial, às 12:00 de 25 de junho, para, de acordo com suas palavras, “definir os novos rumos democráticos a serem seguidos pelo país”.
O conflito entre os poderes do Estado se extremou. Baseado no artigo 323 da Constituição, a Corte Suprema de Justiça reintegrou o General Vasquez na manhã de 25 de junho.
ARTIGO 323.- “os funcionários são depositários da autoridade, responsáveis legalmente por sua conduta oficial, sujeitos a lei e jamais superiores a ela. Nenhum funcionário ou empregado, civil o militar, está obrigado a cumprir ordens ilegais ou que impliquem a execução de delito”. (grifo do autor)
O dia 25 de junho de 2009 foi um dia intenso. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também resolveu declarar ilegal a pesquisa de opinião político-eleitoral convocada pelo Poder Executivo para o domingo 28 de junho, por violar o que estabelece a Constituição da República.
Nesse mesmo dia, magistrados do TSE e integrantes do Ministério Público apreenderam o material destinado à consulta, que havia sido trazido da Venezuela, e encontrava-se armazenado em um galpão dentro da Base Aérea Hernan Costa Mejia. Na oportunidade, o Coronel Castillo Brown, Chefe do Estado-Maior Aéreo, foi nomeado fiel depositário do material apreendido, o qual permaneceu nas instalações da base.
Por volta das 15 horas, o presidente da República, liderando uma turba de seus seguidores, desconhecendo completamente as resoluções da Justiça e abusando de sua autoridade, assaltou as instalações da Força Aérea e recuperou o material destinado à consulta popular. Na ocasião, expressou publicamente que não iria respeitar decisões do Poder Judiciário, que o Poder Legislativo não representava o povo, mas sim ele, que havia sido eleito presidente de Honduras.
Finalmente, às 24:00 horas, o novo Decreto Executivo (PCM-019-2009) foi publicado, sendo divulgado ao público somente no dia 26, por meio de cadeia de rádio e televisão.
Nesse mesmo dia, o Fiscal Geral da República apresentou ante a Corte Suprema de Justiça um requerimento fiscal e solicitou ordem de captura contra Manuel Zelaya Rosales, sob as acusações de conspirar contra a forma de governo, traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de função em prejuízo da administração pública e ao Estado de Honduras.
No dia 27 de junho, às 22:00 horas, a Corte Suprema de Justiça ordenou às Forças Armadas a captura do presidente da República pelos delitos já mencionados e a paralisação da consulta, o que foi realizado na manhã do dia 28.
Às 12 horas do dia 28, por 123 votos contra 5, o Congresso Nacional referendou a decisão da Corte Suprema e empossou Micheletti como o novo presidente constitucional de Honduras.
Cabe ressaltar que a posse de Micheletti, então presidente do Congresso Nacional, deu-se pela ausência do vice-presidente, que havia renunciado meses antes para candidatar-se às eleições presidenciais de novembro.
6. ESCLARECIMENTOS
Acredito que a exposição realizada ainda possa não convencer a muitos que vêem a ação como um típico golpe de Estado. É certo que alguns pontos seguem sem uma justificativa convincente. A decisão de expulsar o ex-presidente do país, enviando-o para Costa Rica, é um deles.
A ordem emitida era clara: capturar Manuel Zelaya e colocá-lo à disposição da justiça para responder pelos delitos que lhe foram imputados. É preciso, no entanto, considerar as conseqüências de manter preso no país um ex-presidente disposto a tudo - como já havia dado mostras dias antes, ao invadir uma instalação militar liderando uma turba - e respaldado por Chávez e seus petrodólares. A questão não pode ser corretamente avaliada se nos distanciarmos da realidade do que é Honduras, um país de instituições ainda frágeis, onde seus agentes são suscetíveis a todo tipo de pressão e coação. Reconheço, no entanto, que, aos olhos de países mais avançados, com democracias e instituições consolidadas, essas argumentações não são suficientes para esgotar o assunto.
Talvez, mas só talvez, os hondurenhos tivessem muito mais a lamentar caso o ex-presidente permanecesse encarcerado em Honduras. A decisão foi tomada no fragor do combate, de comum acordo entre a Junta de Comandantes e o presidente da Corte Suprema. É possível que não tenha sido a mais acertada. Podemos apenas especular. De fato, jamais saberemos.
Como um segundo ponto, ainda se pode argumentar que o presidente não foi julgado por seus crimes e que tampouco foi seguido um desejado processo de “impeachment”. Para tentar explicar esse aspecto, apresento o que consta da Constituição de Honduras, conforme o já citado artigo 239, que me permito repetir para maior clareza.
Artigo 239: “O cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não poderá ser Presidente ou Designado. Aquele que ofender esta disposição ou propuser sua reforma, bem como aqueles que a apóiem direta ou indiretamente, terão cessado de imediato o desempenho de seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de toda função pública”. (grifo do autor)
Observe-se que o artigo fala em intento e também diz “de imediato” – ou, “no mesmo instante”, ou “sem necessidade de abertura de processo”, ou de “impeachment”. De acordo com a interpretação dos juristas hondurenhos, no momento em que Zelaya foi preso e expulso do país ele já não exercia a presidência da República. Encontrava-se em flagrante delito desde que se tomou conhecimento do decreto no dia 26 de junho e por isso “teve cessado de imediato o desempenho de seu respectivo cargo”. Essa interpretação não foi inédita. Semelhante critério foi aplicado contra um presidente do Congresso Nacional deposto na década de 80.
Como um terceiro ponto obscuro, houve uma suposta carta de renúncia que teria sido firmada por Zelaya e apresentada por um deputado ao Congresso Nacional, momentos antes da posse de Micheletti. Para explicá-la, nada tenho a dizer. Poucos a viram e creio que ninguém a analisou. Muito provavelmente seja falsa. Em situações como essa, onde predominam a incerteza e a insegurança, algumas iniciativas individuais são tomadas de forma atabalhoada e em nada contribuem para que a verdade aflore.
7. REFLEXÕES
Resolvi escrever essas linhas diante da minha perplexidade pela unânime e contundente caracterização do que ocorreu em Honduras, por parte da comunidade internacional, como um golpe de Estado. Para alguns, golpe militar de Estado. Ficou muito evidenciada para mim a dicotomia entre as percepções interna e externa de um mesmo processo. Para a totalidade das instituições do Estado de Honduras e, sem nenhuma imprecisão, para a grande maioria da população, não foi golpe, muito menos militar.
Aceito, sem relutância, que possa haver dúvida sobre a legalidade do que ocorreu em Honduras, sobretudo para os que não acompanharam o processo e não estão muito afeitos à legislação interna. Por isso, entendo a veemência com que a comunidade internacional reagiu à cena descrita no parágrafo introdutório. Soluções à ponta de baioneta já não podem mesmo ser toleradas. O que não entendo é o absoluto desprezo da comunidade internacional pelos argumentos que Honduras vem tentando desesperadamente apresentar para justificar suas ações em vistas a salvar sua própria democracia.
Acho que uma grande desordem se estabeleceu em torno dos aspectos que conformam o conceito de democracia. Confunde-se democracia com eleição popular, olvidando-se que o sufrágio não é mais que apenas um dos seus componentes. Fundamental, mas não exclusivo. Diante dessa aceitação, indisfarçáveis ditadores, eleitos pelo povo, sentem-se inatingíveis, acima do bem e do mal, inclusive com licença para delinqüir.
No Brasil, é mais que evidente a dificuldade do Congresso Nacional em caracterizar a Venezuela como um país não-democrático e impedir sua incorporação ao MERCOSUL. A argumentação não foge ao roteiro: o ex-golpista está regenerado, foi eleito pelo povo. Valendo-se do mesmo raciocínio, o governo não vê grandes problemas em estreitar relações com o Irã, afinal, conforme asseverou Lula, Ahmadinejad foi eleito pelo povo em “eleições limpas”.
A confusão não para por aí. Recentemente, a Organização dos Estados Americanos (OEA) não viu a Carta Democrática como um obstáculo à reabilitação de Cuba, mas valeu-se deste mesmo documento para suspender Honduras dos seus quadros. Quando governadores da oposição de Chávez encontraram-se com o Secretario Geral para denunciar os abusos do presidente venezuelano contra a democracia, receberam como resposta que pouco se poderia fazer, pois a OEA era respeitosa da soberania dos Estados e atenta ao princípio da não-intervenção.
Confusões a parte, as relações internacionais seguem sendo governadas pelo pragmatismo e, no fim das contas, o que se pretende mesmo é preservar o “status quo”. Assim, por que importaria a soberania ou a autodeterminação de Honduras?. Para que ouvir a argumentação da sua gente? Afinal, Zelaya não foi eleito pelo povo¿
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Por e-mail do Juarez
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
O que tem o Irã para ensinar ao mundo?
Pedido ao Governo de Costa Rica para que impeça a exposição de Ahmadinejad na Assembléia Geral da ONU
Por Eric Scharf Taitelbaum (Costa Rica)
O que tanto tem o Irã para ensinar ao mundo, como para que uma vez mais seja permitido a seu presidente proferir um discurso na Assembléia Geral das Nações Unidas?
Pode ser que Ahmadinejad queira justificar por que o Irã é governado por um regime opressivo que nega os direitos de seus cidadãos, as liberdades de expressão, culto e imprensa, e suprime brutalmente os direitos das mulheres, crianças, minorias étnicas e religiosas e grupos políticos opositores.
É possível que deseje revelar ao mundo os segredos das eleições iranianas de junho passado, nas quais havia fortes indícios de que o candidato reformista Mousavi ganharia, o Partido no poder anunciou uma retumbante vitória de Ahmadinejad e reprimiu fortemente os protestos que acusavam de fraude os resultados eleitorais.
Quem sabe o Irã pretenda explicar por que é o país que mais apoia o terrorismo, com ajuda financeira e treinamento a militantes xiitas no Iraque, talibãs no Afeganistão e organizações terroristas como Hammas, Hezbollah e Jihad Islâmico. Isso explicaria por que o Irã foi responsável, entre outros, pelo horrendo ataque ao centro comunitário AMIA na Argentina em 1994, causando 85 mortes e centenas de feridos, e a razão pela qual Ahmadinejad designou como Ahmad Vahidi como ministro da Defesa, um procurado pela Interpol e acusado de ser o autor intelectual desse atentado.
Aproveitando que Ahmadinejad falará na ONU, mais interessante ainda, seria se nessa ocasião, explicasse os motivos pelos quais o Irã descumpriu cinco resoluções do Conselho de Segurança que pediu a suspensão do seu questionado programa nuclear de enriquecimento de urânio e projetos de mísseis, e não tem atendido as reiteradas advertências que a Agência Internacional de Energia Atômica tem feito nesse campo.
Por acaso, o Irã tem como objetivo solicitar ajuda internacional alegando que, não obstante seu grande potencial petrolífero e o controle estatal de sua economia, todavia são abalados por taxas com dois dígitos no desemprego (12.5% em 2008) e inflação (28% em 2008), é um dos países con maior drogadicção no mundo e não conta com uma legislação contra a lavagem de dinheiro?
Será possível que Ahmadinejad queira, vergonhosamente, assumir que conhece pouco ou nada de História, por negar com tanta pujança o Holocausto, sem levar em conta que existem tantas evidências e testemunhos deste abominável período que passou a humanidade, tal e como fez em seu discurso "Holocausto, a Mentira Sagrada do Ocidente" na Universidad de Sharif, Teerã, em janeiro de 2009?
Com esses antecedentes, é muito preocupante que o Irã esteja estreitando relações com países latino-americanos como a Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua. É ainda mais alarmante que, não diante das sucessivas condenações de países e organizações contra o Irã, as ameaças iranianas continúeme e que a comunidaade internacional lhe ofereça espaços como o da ONU, no próximo 24 de setembro, para que ele repita seus ataques contra os mais elementares valores, libertades e direitos humanitários.
Como assinalou Abraham H. Foxman, diretor da Anti-Defamation League, as palavras não são suficientes e os países devem traduzí-las em ações.
Historicamente, a Costa Rica tem sido o baluarte internacional em matéria de paz, democracia, igualdade, liberdade e proteção dos direitos humanos. Portanto, atuo como porta-voz de muitos costa-riquenhos que solicitam ao nosso Governo e aos candidatos presidenciais:
(i) que a Costa Rica lidere um movimento ante a ONU para modificar a agenda da próxima Assemmbléia Geral e exclua a participação de Ahmadinejad, dado que seus discursos incitam o ódio e a confrontação;
(ii) de não lograr este objetivo, solicitar ao representante da Costa Rica ante a ONU que se retire do recinto durante o discurso do presidente iraniano, em sinal de protesto.
Estas são ações concretas, não somente palavras.
Fonte: La Nación (Costa Rica)
Via: Congresso Judío latinoamericano
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
POR ONDE ANDARÁ HÉRCULES?
“O governo Lula interferiu nas carreiras de Estado de forma sistemática. Fez isso tantas vezes que ao longo de sete anos o país foi achando natural o que não se pode aceitar”.
A frase acima não é minha, nem tampouco de algum outro economista ou analista considerado “liberal” ou “conservador”. É da jornalista Miriam Leitão – que está longe de poder ser carimbada ou tachada com esses adjetivos ou outros semelhantes -, em sua coluna no jornal O Globo de 26 de agosto.
Comentando o que denomina de “rebelião na Receita Federal”, a conhecida jornalista econômica frisa corajosamente não tratar-se de um fato isolado, mas em autêntica marca do governo Lula, que é a confusão – deliberada, preciso adicionar – entre Estado e governo. E cita os casos calamitosos de aparelhamento, vale dizer, de invasões de hordas de “companheiros” e de sindicalistas, verificados no IPEA, no BNDES e no Itamaraty, aos quais acrescento os de Furnas (em que um dos diretores acaba de pedir demissão por ser contra o referido processo), da Polícia Federal, de certos órgãos do Judiciário, das agências reguladoras, da Petrobras, da Eletrobrás e, de um modo geral, das demais empresas estatais. Muito provavelmente, o mesmo vai ocorrer nas que o governo pretende criar, como a que vai cuidar do “pré-sal”, na contramão da racionalidade e do bom senso, que aconselham claramente, ao invés de mais uma estatal, o modelo de concessão com cobranças de royalties e participações especiais, por ser mais eficiente e dar menos margem à corrupção. Se Roberto Campos ainda estivesse entre nós, podemos imaginar o que diria ao saber que, além da Petrossauro, teremos agora a Petrosal-ro...
Só na Receita, até hoje, foram seis dezenas de pedidos de exoneração de altos postos; os jornais dão-nos conta do absurdo da existência de diversos “grupos” em guerra no seio do órgão, o de Lina Maria Vieira, o de Everardo Maciel, o de Jorge Rachid (todos ex-secretários) e o de Nelson Machado, secretário-geral do Ministério da Fazenda. Parece que apenas os contribuintes não contam com um “grupo” lá dentro...
No IPEA, que há meses realizou um concurso com critérios absurdos de seleção, o presidente Pochmann – aquele mesmo que, quando assumiu o posto conduzido pelo ininteligível Mangabeira Unger, declarou que o Estado no Brasil seria “mínimo” - acaba de divulgar um de seus “comunicados da presidência” que, entre uma e outra agressão à lógica econômica, sustenta que a produtividade do setor público cresceu mais do que a do setor privado, baseado em metodologia que simplesmente manda às favas qualquer consideração minimamente científica, para ajoelhar-se diante da ideologia do Estado-elefante, já que a atividade econômica privada tem o que contabilizar como produção, enquanto que no setor público esta é calculada pelo aumento dos salários e das despesas. Como escreveu Miriam Leitão, o outrora respeitado IPEA está comparando alhos com bugalhos. Em resposta à jornalista, o instituto, em novo “comunicado presidencial”, alegou que a metodologia utilizada para computar a produtividade é a mesma de outras instituições internacionais. Ora, isto, a rigor, não é uma defesa técnica, mas apenas um caso de transferência de responsabilidades, ridiculamente semelhante ao de um aluno que, tendo copiado a prova de outro e tendo recebido uma nota baixa, argumentou com o professor que a prova foi feita pelo colega e não por ele... É espantoso a que ponto esses ideólogos de meia tigela podem chegar!
No BNDES, no início do primeiro mandato de Lula, houve uma tentativa, sob a presidência de Carlos Lessa, de “lavagem cerebral esquerdizante” no quadro técnico, em que os economistas do banco, dos recém-concursados aos mais antigos, foram obrigados a frequentar um curso que tinha como objetivo principal transformá-los em fantoches heterodoxos (na linguagem deles, “desenvolvimentistas”) –, diga-se de passagem, da pior estirpe. Lembro-me bem das queixas, à época, de um colega da UERJ e também funcionário do BNDES, que possui o diploma de Doutor em Economia pela FGV assinado, nada mais nada menos, por Mario Henrique Simonsen, sobre o conteúdo ideológico do tal curso de “reciclagem” em Desenvolvimento Econômico que foi compelido a assistir como aluno.
No Itamaraty – e continuo relatando o que escreve a jornalista em O Globo – não tem sido diferente, a começar por aquela sinistra lista de livros obrigatórios, típica de ditaduras, e prosseguindo com a política de nomeações “seletivas” quando da promoção para postos importantes em países relevantes, em que o requisito básico para assumir as principais embaixadas passou a ser o da lealdade ao grupo que está ocupando o governo.
Poderia citar inúmeros outros casos, mas prefiro mencionar outra frase da jornalista: “O governo Lula ficará na história como o que mais aumentou o gasto de pessoal, o que mais contratou funcionários, e o que mais profundamente feriu a idéia de que os funcionários de carreira servem ao Estado e não a governos”.
Vou apenas acrescentar aquilo que os que têm um mínimo de bom senso já estão fartos de saber: que o aparelhamento do Estado pelo partido do presidente (e os de seus aliados) - vale dizer, pelo PT, pelo PMDB e por outras siglas que, embora menores, não o são em termos de oportunismo - é um processo muito perigoso para a democracia e, portanto, para o futuro do país, como também é perigoso e preocupante o Palácio do Planalto apagar fitas de visitantes, a Casa Civil confundir os compromissos da agenda da ministra, o governo – que já acossara um caseiro - perseguir uma ex-chefe de gabinete da ex-chefe da Receita e usar de todos os meios para impedir uma CPI para investigar denúncias de irregularidades na Petrobras, emitindo um sinal claro, para quem sabe entender, de que quem deve realmente tem motivos para temer, mesmo em um país em que as CPIs costumam acabar em festa e em que o Supremo, em mais uma decisão contrária à opinião pública, inocenta Palocci de haver quebrado o sigilo bancário do referido caseiro...
Quando eles vão parar? Até onde pretendem ir? O que realmente desejam? Essa gente desconhece, ou melhor, simula desconhecer, em sua ânsia de realizar o seu projeto de poder, que governo é uma coisa – passageira e conjuntural – e Estado é outra – permanente e estrutural! Seu modelo parece seguir de perto o de Chávez, Correa, Evo, Cristina, Fidel e outros representantes vivos de Matusalém... Partidos políticos não podem servir-se do Estado nem com o objetivo de implantar as suas ideologias e nem para prover de empregos os seus afiliados e aliados!
Uma das grandes tarefas com que se defrontará um governo realmente preocupado com os destinos do país que nosso despreparado e desinformado povo um belo dia haverá de eleger (sonhar não é, ainda, proibido) será exatamente a de separar Estado e governo, promovendo a profissionalização de toda a burocracia. É evidente que, em uma democracia, uma burocracia profissionalizada não significa que funcionários públicos não possam ter as suas doutrinas, ideologias ou preferências políticas ou partidárias particulares, mas sim que sejam impedidos de colocá-las a serviço de qualquer grupo político, esteja este no governo ou na oposição, utilizando-se para tal de suas funções públicas, que são sustentadas pelos contribuintes.
Alguém, algum dia no futuro, terá que proceder ao desmonte dessa apropriação do Estado pelo governo, uma tarefa tão necessária quanto penosa e que exigirá tempo. Com efeito, os “companheiros” e aliados inoculados no pobre Estado brasileiro pelo rico governo brasileiro sob o comando do semi-analfabeto e arrogante presidente brasileiro são tão numerosos que se assemelham à Hidra, aquele animal da mitologia grega que habitava o pântano de Amione, em Lerna, irmã de Cérbero, o cão do inferno, de Ortro, o canino monstruoso de Gerion e de Quimera, monstro com cabeça de leão, corpo de cabra, cauda de serpente e que vomitava chamas. A Hidra possuía corpo de dragão e inúmeras cabeças de serpente (segundo as várias versões do mito, 7, 8, 9 ou até 10), que tinham a propriedade de se regenerar (ou seja, eliminava-se uma e surgia pelo menos mais uma no lugar) e, para completar, hálito venenoso – um mortífero bafo de onça! -, sendo que uma delas era imortal, exatamente aquela que Hércules, segundo alguns, em um dos doze trabalhos, abateu com uma pedrada na cabeça, embora, para outros, o herói grego tenha destruído todas, para não crescerem novamente...
Como o Brasil está precisando de um Hércules - um presidente que seja de fato um estadista - para vencer a Super Hidra do aparelhamento partidário do Estado brasileiro! Por onde andará ele? Infelizmente, não está no Olimpo, que não existe, nem despacha de Brasília, que, embora seja também um lugar que possui muito de fantasioso, infelizmente, existe, está lá, bem lá, naquela planura seca e sem graça... Por enquanto, esse personagem de que tanto carecemos ainda não deu as caras e o arremedo dele que vem comandando o país desde 2003, embora também goste de gabar-se de “façanhas” e use a barba crescida, não é musculoso, tem o abdômen proeminente, está muito mais para tribufu do que para os padrões helênicos de beleza e é amigo íntimo da Hidra, que se compraz em alimentar e engordar para seu próprio proveito.
Inquieta-nos profundamente que, ao perscrutarmos o quadro eleitoral que se desenha para 2010, não consigamos vislumbrar ninguém que acredite na necessidade de separar Estado e governo, senão vejamos: Dilma será o aprofundamento do aparelhamento; Heloísa é do PSOL, o que dispensa comentários; Marina, tampouco; Ciro, idem, principalmente depois que andou frequentando cursos nos Estados Unidos ministrados pelo professor Unger; Christovam é visto como ético, mas isto é apenas uma condição necessária, porém não suficiente para modernizar o país; Serra, embora possa estancar o processo, dificilmente se disporá a revertê-lo com profundidade, porque sempre foi um economista e político de esquerda, inclusive para os padrões do PSDB, que, a rigor, é um partido de esquerda; a direita, incompetente como de hábito, parece ter mais uma vez vergonha para sequer ensaiar um candidato e não terá coragem para apresentar um; e os liberais e conservadores, simplesmente, não têm ânimo, nem organização, não conseguiram aglutinar-se até hoje e, consequentemente, não têm representatividade política significativa.
Dilma, Heloísa, Marina, Ciro, Christovam ou Serra? Esquerda PAC, esquerda pitbull, esquerda verde, esquerda desbocada, esquerda educada ou esquerda poodle (travestida de social-democracia), eis, mais uma vez, as opções do pobre eleitor brasileiro!
Que democracia é essa, Madonna mia?
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009
quinta-feira, 25 de junho de 2009
CREME ADOBE PHOTOSHOP
Taí a prova para quem não acredita no poder do Photoshop. Graças à tecnologia, Susana Vieira aparece linda e jovem na capa da revista Quem desta semana. Todos sabemos que a atriz de 66 anos é uma coroa conservada e jovial, mas daí a apresentar essa pele lisinha e sem marcas da idade já é um pouco de exagero, né?
quinta-feira, 14 de maio de 2009
domingo, 10 de maio de 2009
CONTINUAÇÃO -
Conheci meu amor há quase três anos, pouco depois de chegar à Índia. Queria ter mais contato com jornalistas locais porque vim com a missão de escrever sobre o país em jornais brasileiros. Eles poderiam me dar boas dicas, informações e sugestões de reportagens. Uma amiga brasileira me deu o contato de um editor do maior jornal do país. Liguei para ele e combinamos de tomar um café. Foi paixão à primeira vista. Logo que começamos a conversar, percebemos que tínhamos coisas em comum: posições políticas, disposição para viagens, os mesmos gostos para livros e filmes, enfim, uma formação cultural próxima, apesar da distância dos nossos países. Quando ele me contou que uma das suas especialidades era a cobertura do Dalai Lama, fiquei extasiada. Sempre simpatizei com o budismo e esse era justamente um dos motivos pelos quais fui para a Índia. Ele me deu vários contatos para futuras matérias e prometeu ajudar no que precisasse.
Mas, logo nesse primeiro encontro, vivi uma saia justa cultural, por causa do sistema de castas. Um pouco antes de ir embora, ele me deu um livro explicativo sobre o assunto escrito por um 'dalit' (termo que significa oprimidos, os indianos que são chamados de intocáveis, situados no mais baixo patamar da pirâmide de castas do hinduísmo, geralmente voltados a trabalhos servis). Shobhan, esse é o nome do meu marido, ganhou mais um ponto positivo. Eu jamais conseguiria ser sequer amiga de alguém que apoiasse esse sistema que abomino. Nos despedimos à indiana: aperto de mãos, nada de beijinhos. Trocamos e-mails e combinamos de nos falar quando ele voltasse de uma viagem que faria à Inglaterra. Fui embora para casa repleta de curiosidade. Como todos os estrangeiros na Índia, queria saber como funcionava o sistema de castas. Também tinha vontade de descobrir à qual ele pertencia. Mas também sabia que pegava mal perguntar a casta de um indiano e resolvi não ser indelicada. Se fosse indiana, descobriria a origem dele pelo sobrenome. Mas Saxena, seu último nome, não me dizia nada.
Quando Shobhan voltou da viagem, escreveu-me. Se oferecia para me ajudar a conhecer a cidade. Aceitei. Fomos a um restaurante, conversamos sobre vários assuntos: o que estava acontecendo no mundo, na Índia. Percebi no olhar dele que tinha interesse por mim, mas ele sequer pegou na minha mão. Como a maioria dos indianos, Shobhan é tímido. Também percebi que não deveria dar o primeiro passo. Essa é uma tarefa dos homens. Nos despedimos com um aperto de mãos mais uma vez. Se fosse no Brasil, com certeza teria rolado uns beijinhos. Mas estava adorando aquela paquera. Combinamos de nos ver novamente.
A certeza de que ele estava interessado aumentava. Sempre estava disposto a me encontrar, inclusive nos sábados à noite. Íamos ao cinema, restaurantes, feiras de artesanato, exposições. Sempre como amigos. Ele me perguntava o que eu achava do país dele. Mas, eu não conseguia contar o choque. Só falava do lado positivo, que de fato existia: o privilégio de conhecer uma cultura milenar tão diferente da minha, poder escrever sobre um dos países que despontavam como potência emergente.
Eu sabia que na Índia as amizades entre homens e mulheres são raras. Shobhan era meu primeiro amigo em seis meses. Também estava ciente de que as mulheres ocidentais têm fama de 'fáceis' e não são muito respeitadas. Mas não dei a menor bola e não hesitei em continuar saindo com ele. Esse é um preconceito comum entre os homens do povo, que não é o caso de Shobhan. Ele é mais cabeça aberta do que a média dos indianos.
Depois de um mês nessa lenga-lenga, ele me convidou para passar alguns dias em um resort, em uma praia, perto de Mumbai. Disse que tinha chamado amigos e que faríamos um piquenique. Mas quando chegamos lá, ninguém apareceu. Ele escolheu um quarto com duas camas de solteiro para nós. Até hoje ele jura - sempre com um sorrisinho maldoso - que os colegas desistiram na última hora. Nos acomodamos, fomos tomar uma cervejinha e comer um peixe frito. Minha passagem de volta para o Brasil estava marcada e começamos a falar de planos. Ele me pediu para adiar a viagem. Queria me mostrar mais lugares na Índia, me levar para conhecer o Dalai. Foi seu jeito tímido de me pedir em namoro. Percebi que tudo aquilo estava sendo difícil para ele. Respondi que sim, mudaria a data do voo. Estávamos muito felizes.
Nosso primeiro beijo só aconteceu à noite, quando fomos para o quarto dormir juntos. Ele foi muito carinhoso, mexia no meu cabelo, passava a mão no meu rosto. Namorar na Índia é um exercício complicado. Os casais quase não se beijam em público sob o risco de serem presos por atentado ao pudor. Mesmo com o namoro oficializado, a gente só se beijava em casa ou em bares moderninhos.Não dormimos mais juntos durante semanas. Ele até me chamava para passar a noite na casa dele, mas percebia o desconforto na sua voz. Acho que fazia isso porque sabia que eu era ocidental. Na Índia, mesmo com uma população enorme, todo mundo comenta quando uma mulher dorme na casa de um homem com quem não é casada. Por isso, não ficava na casa de Shobhan nem de madrugada. Também não o convidava para dormir na minha. Ele ficaria constrangido.
Só consegui perguntar à qual casta ele pertencia depois de meses de namoro. Sua casta correspondia aos guerreiros, governantes, antigos reis. Mas ele, que sempre criticou o casteísmo, se converteu ao budismo como forma de protesto. O budismo não aceita a discriminação de castas.
Como todo bom indiano, Shobhan sempre me perguntava se casaria com ele. Achava que ele estava brincando e respondia, 'sim'. Minha passagem de volta para o Brasil tinha sido apenas adiada, mas ainda existia. Eu estava dividida. Ficava angustiada ao pensar que não ficaria mais com Shobhan, mas, imagine, sentia saudade até do conforto e da organização do trânsito de São Paulo, de falar a minha língua. Na Índia, os carros, motocicletas, motonetas e vacas ocupam as ruas sem nenhuma lógica. Não existem leis de trânsito, semáforos, muito menos contramão. Impera a lei do mais barulhento. Aqui, as pessoas buzinam para sinalizar que estão atrás de outro automóvel. Os ônibus e caminhões têm placas nas traseiras que dizem: 'Buzine, por favor'. É um aviso de que ele não pode dar ré a qualquer momento. Acho que o espelho retrovisor é um enfeite. E deve ser por isso que a meditação nasceu aqui!
Marquei minha passagem de volta. Dias depois, ele me fez uma surpresa. Disse que iria pedir a um monge budista tibetano para nos casar. Fiquei completamente estupefata. Disse sim na hora, mesmo com frio na barriga. Sabia que estava sendo impulsiva, mal o conhecia, mas tinha o pressentimento de que daria certo. Além do mais, a maioria das decisões importantes da minha vida tinha sido tomada dessa forma.
Contei para a minha família e amigos por e-mail a grande novidade e depois liguei para a minha mãe. Ninguém acreditava. Disse que estava apaixonada e todos me apoiaram na decisão. Lamentaram não poder ir à cerimônia. A família dele ficou muito feliz, mesmo eu sendo estrangeira. Afinal, ele iria cumprir a missão social mais importante da vida: casar. Sem ele saber, seus pais já haviam até colocado anúncios no jornal, na seção de classificados de casamento, divididos por castas, o que é comum por aqui, mesmo para os homens. Antes de me conhecer, ele já havia passado pela constrangedora situação de ir a vários encontros às escuras. O casamento arranjado ainda é a principal forma de união entre os indianos. O pagamento do dote - aquele que as sogras tanto adoram - também é comum. A gente brinca com esses hábitos arcaicos que ainda existem na Índia, um país que vive em vários séculos ao mesmo tempo. Felizmente, Shobhan vive no século 21.
Nos casamos duas semanas antes de eu voltar para o Brasil. A cerimônia budista foi simples e durou 40 minutos. Sentamos em almofadas diante da mesa do monge, que falou o tempo todo em tibetano. Não entendi nada. Depois Shobhan me disse que o sermão versava sobre Buda e seu significado. A ceia foi vegetariana, é claro. O cozinheiro era do Butão e preparou um menu delicado, bem menos apimentado que o indiano, com o qual meu estômago ainda não fez as pazes.
Depois de casada, tive a minha primeira experiência como patroa na Índia. Nunca tinha tido uma empregada doméstica, até porque não conseguia me comunicar com elas em híndi. Por essa experiência, descobri que o sistema de castas ainda está enraizado nas cidades. A moça fazia a faxina do apartamento, mas ignorava o banheiro. Quando perguntei a Shobhan por que ele não pedira a ela que limpasse também o banheiro, ele me olhou espantado, com um olhar que me fez sentir uma assassina: 'Você queria que eu pedisse isso a ela? Nunca, não poderia!'. E me explicou que a moça não pertencia à casta de limpar o banheiro. As famílias costumam ter vários empregados, um para cada tarefa.
Cinco meses depois do casamento nos mudamos para a capital, Nova Délhi, onde vivemos até hoje. É o centro dos correspondentes estrangeiros por ser a sede do governo central e das embaixadas. Shobhan pediu transferência dentro do mesmo jornal para me acompanhar. Em Délhi, o assédio dos homens é pior do que em Mumbai. Apesar de tímidos, eles são extremamente machistas. São mais agressivos e menos acostumados à presença das mulheres em ambientes dominados por homens. Não se veem muitas mulheres nas ruas, trabalhando em lojas, vendendo produtos. Tradicionalmente, a mulher ficava em casa e o homem saía para trabalhar. Eles dominam até os salões de cabeleireiros. Aqui, pedicures e manicures são homens.
Nova Délhi é uma das cidades com mais alto índice de estupro e agressões a mulheres na Índia. Os homens tentam dar passadinhas de mãos nas pernas e nos seios -uma obsessão dos indianos -, especialmente em ambientes com muita gente. Por isso, Shobhan queria me acompanhar na rua, pedia para eu não andar sozinha de rickshaw (aquele triciclo motorizado muito comum na Ásia). Casos de motoristas que levam mulheres para lugares ermos e as estupram são comuns. Levei várias passadas de mão até aprender que não se deve encarar os homens na rua, mesmo com cara feia. O ideal é desviar o olhar e proteger o peito cruzando os braços, principalmente em aglomerações. Hoje, ando com um spray de pimenta para jogar nos olhos dos eventuais agressores.
Alugamos um apartamento no terceiro andar com um imenso quintal de frente para um parque. É um lugar privilegiado. O único porém são as visitas inesperadas dos macacos. Shobhan sempre liga para me lembrar de não deixar a porta de casa aberta enquanto estou na espreguiçadeira do quintal pegando um solzinho: os macacos costumam entrar nas casas e roubar comida e objetos de valor, como celulares. Na minha, eles ainda não conseguiram furtar nada.
A família de Shobhan não foi ao nosso casamento. Sua irmã passou por uma cirurgia grave e de emergência no mesmo dia. Ficaram chateados, nos ligaram, pediram desculpas. Entendi a situação. Mas descobri depois que Shobhan estava magoado e não queria rece bê-los na nossa casa. Com essa demora em conhecer a família, já estava achando que eles não tinham me aceitado. O mito da sogra assassina só aumentava e até virou piada entre meus amigos e familiares.
Sete meses depois do casamento, os pais dele vieram nos visitar, quando a raiva já havia passado. Minha sogra me surpreendeu e foi muito doce. Me abraçava e me beijava muito, o que ela não faz nem com os filhos, porque na Índia eles só agem assim quando as crianças são bem pequenas. Apesar de não falar inglês, entende. Sorria enquanto eu falava. Meu sogro também foi educadíssimo, com um inglês maravilhoso, inteligente e bem informado. Foi um alívio. Tive que mandar um relatório imenso e detalhado para a minha mãe, que, no fundo, estava morrendo de medo de eu ter entrado em uma roubada.
Só depois de casada me senti à vontade para contar a ele sobre meu medo de andar de táxi. Logo que cheguei, uma ratazana resolveu subir no colo de um amigo dentro do táxi. Como fui perceber depois em vários episódios macabros, os indianos não costumam matar esses bichos para não ter carma ruim na próxima vida (nora pode, mas bicho...). Ou seja, não é só a vaca que tem vidão na Índia. Os ratos, baratas e aranhas que aparecem nas casas e dentro dos carros são apenas expulsos, sem danos a sua integridade física. Esse foi um capítulo à parte no meu casamento. No início da convivência a dois, Shobhan se recusava a matar baratas - que eu odeio com todo o coração. Mas, felizmente, o meu ódio prevaleceu e ele entendeu que as baratas não têm espaço na nossa vida. Nem nessa nem em outra encarnação: chinelo e spray nelas! (Só que tive que dar o braço a torcer quando uma bichinha se aproximou do meu pé durante uma entrevista do Dalai Lama. Estava na primeira fileira, pertinho do Dalai. Shobhan, do meu lado, viu meu pavor e me advertiu: se matasse a baratinha, perderia todas as fontes de informação budistas presentes, além da possibilidade de entrevistar o líder budista. Em nome do jornalismo, não matei, mas assoprei a bicha, que felizmente foi embora).
Não, não foi uma roubada. Nem o casamento, nem o marido, nem a sogra, nem o restante da família. Foi um grande presente que a Índia me deu. Mas morar aqui continua sendo um desafio, confesso. Quanto às ratazanas, já consigo até encará-las perto de mim, desde que não venham para o meu colo, é claro. Prefiro elas, as baratas, as aranhas e os macacos ladrões aos homens machistas e incovenientes de Délhi.'
Revista Marie Claire - Eu, leitora - nas bancas
sexta-feira, 1 de maio de 2009
terça-feira, 21 de abril de 2009
CONTINUAÇÃO - SHARIA
O que é a sharia?
A doutrina dos direitos e deveres religiosos do islã. Abrange as obrigações cultuais (orações, jejuns, esmolas, peregrinações), as normas éticas, bem como os preceitos fundamentais para todas as áreas da vida (matrimônio, herança, propriedade e bens, economia e segurança interna e externa da sociedade). Originou-se entre os séculos VII e X d.C. a partir dos trabalhos de sistematização realizados por eruditos e legisladores islâmicos e baseia-se no Corão, suplementado pela Suna, a descrição dos atos normativos do profeta Maomé.
Com seus ataques planejados, os muçulmanos tentam forçar a emigração dos cristãos, especialmente das províncias multireligiosas do centro da Nigéria (como Adamara, Plateau State e Taraba). No final de fevereiro de 2003, muçulmanos armados atacaram cristãos em Adamara, matando pelo menos 100 pessoas. Mais de 500 ficaram gravemente feridas, cerca de 130 casas e algumas igrejas foram queimadas e mais de 21.000 habitantes foram expulsos da região. Entre setembro de 2001 e abril de 2003 foram mortas mais de 6.000 pessoas e 500.000 foram expulsas de Plateau State. Dentre os diversos grupos étnicos da Nigéria, o povo Tiv, predominantemente cristão, que ocupava o Centro e o Sul do país, foi enxotado pelos povos muçulmanos dos Hausa, Fulani e Jukun e milhares de pessoas foram assassinadas. Ataques desse tipo são organizados e perpetrados constantemente por grupos islâmicos fortemente armados vindos de países vizinhos como Chade, Níger e Mali.
Implantação da sharia
Nas províncias ‘limpas de cristãos’ e agora majoritariamente islâmicas o passo seguinte é a implantação da sharia. Hoje, doze das 36 províncias da Nigéria já a têm como legislação suprema. Com mais seis províncias islamizadas a Nigéria seria majoritariamente muçulmana! As ‘províncias da sharia’ teriam, assim, a possibilidade de impor a lei islâmica ao país inteiro. Mesmo que os líderes muçulmanos declarem sempre que a sharia só é aplicada a muçulmanos, a realidade nas doze ‘províncias da sharia’ fala uma linguagem bem diferente.
Sharia para cristãos
Nas províncias administradas segundo os preceitos da sharia islâmica, quase não são mais construídas novas igrejas, pois elas certamente estariam muito próximas de alguma mesquita. Casamentos entre cristãos e muçulmanos são permitidos apenas quando o noivo é muçulmano; os filhos são considerados muçulmanos e devem ser educados como tais. Conversões de muçulmanos ao cristianismo continuam proibidas. Como acontece no Paquistão, os cristãos podem ser sumariamente acusados de ‘blasfêmia’ contra o profeta Maomé ou contra o islã. Cristãos devem estar sempre sob as ordens de patrões muçulmanos. Além disso, é comum que moradores de aldeias muçulmanas apliquem a lei islâmica sem interferência das autoridades: segundo declarações de organizações de direitos humanos confiáveis, muitas vezes as mãos e os pés de ladrões sãos cortados ou os consumidores de álcool são açoitados sem qualquer processo ou julgamento. Mas há esperança: impressionados com a perseverança e a firmeza dos cristãos em um ambiente hostil, nos últimos anos alguns muçulmanos encontraram a Jesus inclusive em províncias islâmicas como Kano e Kaduna.[1]
Ataque na Nigéria mata 600. Maioria das vítimas é cristã
Lagos – Porta-vozes comunitários cristãos de Kano, no Norte da Nigéria, afirmam que pelo menos 600 pessoas, a maioria de fé cristã, morreram nos ataques de militantes muçulmanos, que também incendiaram uma dezena de igrejas e centenas de casas e negócios de seus rivais. Cerca de 30 mil pessoas tiveram que sair de seus lares para fugir dos confrontos, informaram líderes locais da Associação Cristã da Nigéria, por telefone, desde Kano. (Correio do Povo, 14/5/04)
O islã está avançando. Ele espalha-se por todos os continentes abrindo caminho para a implantação da sharia. Jamais um muçulmano convicto, que vive segundo as leis islâmicas, irá curvar-se diante de um governo democrático ou se sentirá comprometido com uma democracia ocidental. Por isso está sendo tão difícil o estabelecimento de um regime democrático no Iraque e no Afeganistão. Pelas leis islâmicas isso nem seria possível, pois assim o islã deixaria de ser islã. Mas ai dos países onde se instala a sharia! Seja no Oriente Médio, na Ásia, na África ou em qualquer parte do mundo – onde a sharia torna-se lei, a liberdade acaba. Onde os preceitos islâmicos são seguidos ao pé da letra os direitos humanos são ignorados, pessoas são discriminadas e nenhuma crença além do islã é tolerada. Na Arábia Saudita, onde a sharia é o fundamento das leis, houve recentemente um atentado, com onze mortos, num bairro onde residem estrangeiros. Parece que poucos no Ocidente se importam que a Arábia Saudita seja um dos países que apóiam financeiramente as famílias dos terroristas-suicidas palestinos. Hoje o maior perigo terrorista vem dos grupos militantes do mundo islâmico que se baseiam na sharia. Não se trata apenas do Hamas, do Hezbollah ou da rede Al Qaeda, mas também de terroristas do Iêmen, da Argélia e do Abu Sayaf filipino. A nuvem de militantes islâmicos torna-se cada vez maior e mais densa, mas também mais negra e assustadora. Seja Israel, em seu conflito com grupos terroristas, os Estados Unidos no Iraque ou os países da África – todos são quase impotentes diante da ameaça terrorista, pois pouco podem fazer para impedir os ataques-suicidas. Como pode-se ameaçar ou dissuadir a quem está tão cheio de ódio por aqueles que não compartilham sua visão a ponto de jogar fora a própria vida para alcançar seus "direitos"? A sharia tornou-se um flagelo para a humanidade nos países onde impera, e parece estar abrindo caminho sem se deter diante do Ocidente.
Esse fenômeno só pode ser explicado no contexto do cenário dos "tempos finais". É tempo do fim em qualquer área, inclusive na religiosa. Apostatar de Deus e de Sua Palavra são atitudes que têm aumentado constantemente. Isso torna as pessoas cada vez mais cegas diante dos perigos e enganos religiosos.
Lemos na Segunda Carta aos Tessalonicenses: "É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça" (2 Ts 2.11-12). É justamente o mundo ocidental que está se despindo de seu manto "cristão" e se despojando de tudo o que lembra o cristianismo ou que se aproxime das verdades bíblicas. Mas, ao fazer isso, parece não perceber que está passando a usar uma camisa-de-força imposta por outras influências. Onde Jesus Cristo e Sua Palavra são colocados de lado, idéias brutais e cruéis, estranhas e erradas passam a ocupar seu lugar. Não é de admirar que Deus entregue uma nação à ditadura de poderes ou ideologias injustas quando esta pisa Seu amor com os pés. Onde existe prazer com a injustiça ela rapidamente se instala e assume o comando.
"Povos todos, escutai isto; dai ouvidos, moradores todos da terra" (Sl 49.1). (Norbert Lieth - http://www.chamada.com.br/)
Nota:
1. Christian Solidarity International, CSI.Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, junho de 2004.
Norbert Lieth será um dos preletores do 11º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética - Águas de Lindóia, 21 a 24/10/2009. Mais detalhes aqui »
segunda-feira, 6 de abril de 2009
ARQUIVO DILMA ROUSSEFF
CONSTRUINDO UM DILMA....UMA QUE CAIBA NO GOSTO POPULAR, OF COURSE.
A Dilma Rousseff que todos conhecem lutou contra a ditadura, foi presa e torturada. Virou ministra, enfrentou várias crises no governo e é candidata não oficial à presidência nas próximas eleições. A Dilma que quase ninguém conhece sentia culpa de ir trabalhar e deixar a filha em casa, ri de si própria e se diverte com os programas de sátira a seu respeito. Diz que se sentiu nua quando a imprensa começou a vasculhar sua vida pessoal. Em entrevista exclusiva à Marie Claire, ela fala que preferia os tempos em que os homens cortejavam as mulheres, acha que esse negócio de ficar não funciona bem para nós e diz que é a favor da legalização do aborto
A ministra em seu gabinete. Uma linha de telefonesó para falar com o presidente
O gabinete da ministra da casa civil, Dilma Rousseff, 61 anos, é amplo e bem arrumado. Um sofá, duas poltronas, uma mesa de centro com livros ilustrativos do Brasil. Atrás da grande mesa de trabalho, um bufê com alguns porta-retratos: uma foto da filha, Paula, advogada de 31 anos, seu maior xodó, outra com o presidente. Uma imagem de Iemanjá, 'presente do governador da Bahia, Jaques Wagner', e outras duas de santas barrocas. Em uma das paredes, duas fotos ampliadas dela com Lula. A mais famosa é a que ele coloca as mãos sujas de petróleo nas costas da ministra, em uma espécie de 'batismo' de óleo. Um telefone que é usado somente para falar com ele. São sinais que mostram sua relação afinada com o presidente. Dilma é hoje a mulher mais forte do governo. À frente do PAC (Plano de Aceleração ao Crescimento), é a candidata natural do PT à presidência da República. Entramos no gabinete esperando encontrar a Dilma que todo mundo conhece - ou acha que conhece. Dura, séria, um tantinho mal-humorada. Encontramos uma mulher sorridente, que nos cumprimentou com dois beijinhos. Vestida num terninho azul-claro, regata branca, colar de pérolas, relógio, fitinha do Senhor do Bonfim amarrada no pulso (presente de Flora Gil, objeto de um pedido do qual nem lembra mais), Dilma nos deixou à vontade logo nos cinco primeiros minutos de conversa. Sem brincos e sentada em uma mesa redonda de reunião, com vista para a Esplanada dos Ministérios, Dilma puxou uma edição de Marie Claire trazida por sua assessora e apontou uma foto da atriz Larissa Maciel, que fez o papel da cantora Maysa na minissérie global. 'Como essa menina está linda nesta foto. Mais bonita do que na minissérie', disse. 'Sabe por quê? Porque aqui as feições estão suavizadas.' Assim como as dela mesma, depois da plástica feita no início do ano. Ela age como se ainda estivesse se acostumando ao novo visual - enquanto fala, ajeita os cabelos, puxa para frente, joga um pouco para o lado. Aqui, uma das armas da mídia para amenizar a Dilma real
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Fiquem certos, essa estratégia será muito, mas muito usada daqui para frente. Ela se sentará no sofá da Hebe, será entrevistada por outras revistas de moda e decoração, fará brigadeiro com a Ana Maria Braga, enfim, todos os meios serão usados para fazer com que nós, principalmente nós, mulheres, compremos a ideia de uma Dilma competente, mulher, mãe de família e esqueçamos de contabilizar em nossa opinião final sobre ela, aquela face que gostariam de esconder. A Estela, a Wanda, a Luiza...enfim, as muitas faces dessa Eva .Essa reportagem está sendo mostrada na Marie Claire desse mês, cuja a capa é a Giselle...
A revista começou bem, sim, há uma Dilma que ninguém conhece, mas não é a mãe e só...é a Estela, Wilma..Luiza e fiquem certos, nenhum caberia em uma música do Jobim...Afinal, quem é verdeiramente Dilma?
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Dilma, MENTIRA nunca mais
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Dilma Roussef, a atual Ministra da Casa Civil que usou Estela como um de seus codinomes, insiste no seu papel de vítima de supostas torturas na época da ditadura militar. Entretanto, quem estiver disposto a procurar pela veracidade do seu sofrimento, não encontra nada que a comprove. Seu nome é ignorado por diversos movimentos e grupos como Tortura Nunca Mais, por exemplo. Dilma Roussef não é sequer citada em livros ou sites que tratam do assunto; seu nome não faz parte da relação de torturados em canto algum . E mais, mesmo entrando em contato com tais movimentos, sabemos que, para eles, Dilma não passa de uma 'desconhecida no ramo' .
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Abaixo, trechos do livro "Brasil Nunca Mais, um relato da história", editado pela Arquidiocese de São Paulo (que não respondeu à carta enviada sobre o alardeado sofrimento de nossa ministra), em que são citados nomes e números de diversos processos contra terroristas.
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Estranho que um grupo tenha se empenhado por cinco longos anos para levantar denúncias de pessoas torturadas ou de testemunhas de tais fatos sem que apareça o nome da terrorista Estela, apresentada hoje como tão importante à oposição ao governo ditatorial da época. Ou sequer surja em alguma página dos "documentos produzidos pelas próprias autoridades encarregadas dessa tarefa", como diz o último parágrafo. Mais estranho ainda que Estela/Dilma, com sua personalidade forte, deixasse seu sofrimento passar em branco, sem que fizesse alguma denúncia.
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Um dos casos mais comentados sobre a ... "virilidade" de Dilma Rousseff é o assalto ao cofre de Adhemar de Barros. Mas o livro Brasil Nunca Mais, ao se referir ao assunto, também a ignora, como vemos abaixo.***Teria sido Dilma Rousseff tão importante quanto pretendem mostrar?
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Imperdível no Blog Casa da mãe Joana,continue lendo aqui
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O Blog Coturno Noturno começou um trabalho de desnudamento da candidata Dilma Rousseff do PT a presidência da República. Todos nós devemos participar ativamente desse trabalho do Coronel.Coloco a seguir na íntegra seu post e peço a todos que leiam. É para o nosso bem. Para o bem do Brasil.Esquecer jamais, perdoar nunca.
O Coturno Noturno está começando a publicação de uma série de selos - VEJA AO LADO - que relembrem os assassinatos cometidos pelo grupo terrorista de Dilma Rousseff, desde a VPR até a VAR-Palmares. Postem nos comentários os links onde podemos encontrar fotos das vítimas, com um resumo da ação criminosa. Links com fotos, ok? Fotos são indispensáveis! Vamos fazer Dilma Rousseff, tão esquecida, lembrar da história completa.
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O que precisamos são fotos dos seguintes brasileiros assassinados pela VPR:
Noel de Oliveira Ramos, Estanislau Ignácio Correia,Orlando Pinto da Silva, Cidelino Palmeiras do Nascimento, Aparecido dos Santos Oliveira, Kurt Kriegel, Garibaldo de Queiroz, José Aleixo Nunes, Hélio de Carvalho Araújo, José do Amaral, David A. Cuthberg e Sílvio Nunes Alves.
( Coronel)
CRIMES COMETIDOS PELA VPR E VAR-PALMARES
Para refrescar a memória da Dilma.
Vamos acompanhar muito de perto e vamos participar.Aqui o endereço do Coturno Noturno.
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NÃO PODEMOS NOS ESQUECER DELA, DE SEU PASSADO. É HORA DE DESNUDA-LA. CONHECE-LA
Dilma, o passado e a delaçãoReinaldo Azevedo
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi confrontada com o passado no fim de semana. Duas publicações revisitaram, ouvindo contemporâneos e amigos da ministra, o envolvimento dela com a guerrilha, no período da ditadura militar. Reportagem publicada na edição deste mês da revista "Piauí" revela um caso em que Dilma, depois de torturada, teria delatado um colega.Hoje caminhoneiro, Natael Custódio Barbosa conta que, no fim de janeiro de 1970, foi a um encontro marcado com Dilma e acabou preso. Ele chegou a encontrar a então militante, mas foi surpreendido pela polícia."Ela fez aquela cara de desespero e eles caíram imediatamente em cima de mim", disse Natael, que completou:"Nunca mais a vi. Ela me entregou porque foi muito torturada, e eu entendo. Acho que me escolheu porque eu era da base operária, não conhecia liderança alguma".Em entrevista à "Folha de S.Paulo", a ministra Dilma Rousseff diz não ter hoje a mesma cabeça da época e que já esqueceu muita coisa do período de torturas:"Uma parte você tentava esquecer. Sabe que teve uma época em que eu falei uma coisa que eu achava que era verdade e não era. Era mentira que eu tinha contado e aí depois eu descobri que era mentira. Você conta e se convence".Na mesma reportagem, Antonio Spinosa, ex-colega da ministra, afirma que, em 1969, o grupo armado que dirigiam planejou uma ação contra o então ministro da Fazenda, Delfim Netto , hoje aliado de Dilma." Todos os dias arranjam uma ação para mim. Agora é o sequestro do Delfim? Ele vai morrer de rir "Um mapa da emboscada preparada para Delfim consta de um dos processos no Superior Tribunal Militar (STM) que condenou militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Na reportagem, Dilma negou com veemência a participação no plano."Acho que o Spinosa fantasiou essa. Sei lá o que ele fez, eu não me lembro disso", afirmou Dilma, que em seguida foi ainda mais enfática:"Todos os dias arranjam uma ação para mim. Agora é o sequestro do Delfim? Ele vai morrer de rir. Estou te fazendo (à repórter) uma negativa peremptória".
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Escondendo a fofa da crise!
Escondendo Dilma da crise
Queda de 10 pontos porcentuais na avaliação positiva do governo Lula só mostra que a economia e a popularidade sempre apontam para a mesma direção
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr Fonte: Revista VejaPesquisas qualitativas encomendadas pelo Palácio do Planalto mostram que a população já começa a apontar o presidente como responsável pelo aumento do desemprego e pela diminuição do poder de compra.Politicamente, a inflexão da linha de popularidade do presidente também já provoca mudança de estratégia na pré-campanha presidencial.Está decidido, por exemplo, que haverá dois gabinetes oficiais para lidar com a crise – o das boas e o das más notícias.O primeiro ficará encarregado do anúncio de novos programas sociais, da inauguração de obras e da divulgação de resultados positivos. Terá como porta-voz a ministra Dilma Rousseff, a candidata do governo à sucessão de Lula.O segundo, que responderá pelo PIB, desemprego e problemas em geral, ficará sob a responsabilidade dos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Paulo Bernardo, do Planejamento."Dilma vai cumprir o papel de senhora das boas notícias. Ela não vai mais pronunciar a palavra crise", afirma um dirigente petista.-----------------Via The Passira News
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A entrevista na Folha de São Paulo - 4 de abril de 2009
Dilma diz não ter a mesma cabeça da época em que era guerrilheira; veja a íntegra da entrevista
( Será? Eu, juro, tenho minhas dúvidas!!! Muitas dúvidas por sinal)
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FERNANDA ODILLA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A ministra Dilma Rousseff conversou com a Folha por telefone, na segunda-feira passada, por quase uma hora. Falou das organizações em que militou, da tortura e dos torturadores. Admite que episódios do passado estão ficando obscuros. Na época em que pegou em armas para combater o regime militar, diz ela, "achava que estava fazendo tudo pelo bem da humanidade". Disse não se lembrar do plano para sequestrar Delfim Netto e negou ter sido informada da ação. "Todos os dias arranjam uma ação para mim. Agora é o sequestro do Delfim? Ele vai morrer de rir". A seguir, a íntegra da entrevista.
FOLHA - A senhora não se lembra dos planos de sequestrar Delfim e de montar a fábrica...
DILMA - Nem sabia que houve. Qual era o outro?
FOLHA - Construir uma fábrica de bombas acionadas por controle remoto.
DILMA - Ah, pelo amor de Deus. Nenhuma das duas eu lembro e nunca me perguntaram. Veja bem, nunca ninguém do Exército, da Marinha e da Aeronáutica me perguntou isso.
FOLHA - Antônio Roberto Espinosa [ex-comandante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares] me disse que logo, depois do racha, a VAR começou a se reestruturar e a traçar alguns planos. Apesar de estar mais focada na mobilização operária e estudantil, havia dois planos que ele considerava ousados e que não deram certo: sequestro do Delfim Netto e o outro...
DILMA - Eu não participei disso.
FOLHA - Ele diz que era o responsável direto da ação e que informou ao comando, que seria composto pela senhora, o Carlos Aberto Soares de Freitas, o Loyola [Mariano Joaquim da Silva] e o Max [Carlos Araújo, segundo ex-marido de Dilma].
DILMA - Deixa eu te explicar uma coisa, eu tinha saído do comando. Quando houve a fusão, eu saí do comando e fui para São Paulo. Quando recompôs, eu fui presa. Eu não sei o que eles iam fazer.
FOLHA - O que Espinosa fala é que, depois do racha, a senhora era do comando.
DILMA- Ah minha santa, eu não me lembro disso mais. Não sei se fui, se não fui. É um período muito pequeno até a queda. Eu sou uma das primeiras a cair. Eles só vão cair lá para a metade do ano.
FOLHA - O Espinosa cai antes...
DILMA- Na minha cabeça eu achava que ele tinha sido preso depois.
FOLHA - Ele foi preso em novembro de 1969, com o Chael [Screier, morto pela repressão] e a Dodora [Maria Auxiliadora Lara Barcelos].
DILMA- Tá certo. Eu saio em setembro do Rio.
FOLHA - Eu encontrei no inquérito da VAR um mapa que foi apreendido na rua Aquidabã, quando a Dodora, o Chael e ele [Espinosa] foram presos. O mapa, que o Delfim reconheceu, era um lugar que ele frequentava. É um sítio do cunhado dele no interior de São Paulo e o Espinosa disse que a ação seria no interior de São Paulo.
DILMA- Ô minha santa, aí é ele quem sabe disso.
FOLHA - Te surpreende um plano para sequestrar o Delfim naquele momento?
DILMA- Eu acho que não era o que a gente [queria], não era essa a posição do pessoal da VAR. Nós não éramos a favor de ações armadas desse tipo.
FOLHA - De qualquer forma, depois do racha o dinheiro do cofre [com US$ 2,4 milhões do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros] foi dividido, não? E o sequestro daria visibilidade à organização.
DILMA- Acho muito difícil ter acabado [o dinheiro do cofre]. Eu não cuidava dele. O que uma fábrica de bombas traz dinheiro? Não entendo. Precisava estar numa linha de luta armada e a gente não estava muito [nessa linha]. A gente não acreditava nisso.
FOLHA - Como foi o início da militância da senhora, sair de estudante no Estadual Central e entrar na Polop?
DILMA- Era uma coisa muito natural, as organizações eram estudantis. Era um prolongamento do que se fazia, distribuir panfleto na escola, participar de manifestação estudantil. É normal. Na minha época, logo no inicinho, não havia essa distinção tão forte [entre simpatizante e militante].
FOLHA - A senhora estava tomando café da manhã na [lanchonete, em Belo Horizonte] Torre Eiffel quando ficou sabendo do AI-5?
DILMA- Não era bem café da manhã. A gente tomava um cafezinho e comia um pão de queijo. Você se lembra da Torre Eiffel? Ela ainda existe?
FOLHA - Agora só faz salgados para fora, não é mais uma lanchonete.
DILMA- Eu gostava da empadinha de queijo, de massa podre, era muito boa.
FOLHA - Mas a senhora estava tomando cafezinho com pão de queijo quando...
DILMA- Um dos meninos passou, um companheiro de organização disse: "Decretaram o AI-5".
FOLHA - Já tinham começado a cair os primeiros companheiros da Colina?
DILMA- Não. Eu estou de falando não, mas minha cabeça não é confiável. Na minha cabeça, não tinham caído. Vão cair depois. Eu tenho impressão que não tinham sido presos ainda não.
FOLHA - A senhora logo percebeu que a clandestinidade seria o caminho natural?
DILMA- Eu percebi. Todo mundo achava que podia haver no Brasil algo muito terrível como o que aconteceu na Indonésia. Esse receio de que um dia eles amanheceriam e começariam a matar era muito forte. Eu sou bem velha, comecei em 1964. A maioria tinha um nível de adesão que não era muito grande, mas também não era pequeno. Com o passar do tempo, o Brasil foi se fechando, as coisas foram ficando cada vez mais qualificadas como subversivas. Era subversivo até uma música, uma peça de teatro, qualquer manifestação de rua era subversiva. Eu me lembro muito que discutir reforma universitária subversivíssimo. Coisas absolutamente triviais hoje eram muito subversivas.
FOLHA - Por que vocês foram deslocados para o Rio de Janeiro, por que não São Paulo?
DILMA- Porque nós, a Colina, éramos Minas e Rio. São Paulo tinha ficado com a VPR.
FOLHA - Quando a Polop se fragmentou, um grupo virou VPR e outro Colina lá em 1967?
DILMA- Não, virou duas organizações diferentes. A nossa não tinha nome. A nossa ficou uma organização era O pontinhos.
FOLHA - Quando vira Colina?
DILMA- Todo mundo que era dessa organização, nós sempre ficamos juntos. Houve sempre dentro desse grupo uma visão diferenciada, tinha um pessoal que achava que tinha de ter luta armada e outro que achava que a linha de massa era mais forte. Isso vai permanecer. Tanto é que os que acham que a linha de massa era mais forte viram VAR e ficam sempre VAR. Os que acham que a luta armada era o melhor caminho começam VPR e vão ser VPR depois que a VAR racha. Colina foi um período curto na minha cabeça e eu não me lembro direito se era três meses, dois meses. Até porque a gente não gostava de libertação nacional...
FOLHA - Por quê?
DILMA- Porque eram duas linhas: uma era a revolução socialista e a outra libertação nacional. O povo da revolução socialista era linha de massa e o povo da libertação nacional era luta armada.
FOLHA - Foi uma escolha da senhora o trabalho no setor de mobilização urbana?
DILMA- Qual era a outra alternativa?
FOLHA - Havia o setor de expropriação.
DILMA- Disso eu nunca quis ser. Nós não achávamos isso grande coisa.
FOLHA - Mas, por um momento, foi importante para manter funcionando as organizações, não?
DILMA- A partir de um determinado momento houve uma visão crítica disso, do que a gente chamava militarismo. Na nossa não valorizava muito isso [ações armadas], como as outras [organizações]. É muito difícil falar isso porque as pessoas ficam achando que a gente está limpando a barra. Não me interessa ficar falando nisso, é da época e deu.
FOLHA - Algumas ações ganharam notoriedade, como o cofre do Adhemar. Mas eram dois setores bem distintos como o setor operário e estudantil e outro mais focado nas ações militaristas...
DILMA- Na VAR, a grande maioria esteve na outra [operário e estudantil].
FOLHA - Mesmo no tempo do Lamarca?
DILMA- Foi curtíssimo. Eu não me lembro, eu não fui da direção, desse período eu não sei o que fizeram. Eu sei que havia uma tensão eterna, nunca concordávamos uns com os outros porque pensávamos diferente. E aí bota todo mundo junto, você imagina. Eu não posso dizer o que aconteceu dentro da direção.
FOLHA - No depoimento à polícia, a senhora diz que ficou na casa de uma tia, depois vai para o Hotel Bahia e depois vai para a casa de companheiros... Como era a vida de clandestina no Rio de Janeiro?
DILMA- Não era nada disso. O hotel Bahia é verdade, todo mundo ia para o hotel e ele caiu. A gente estava dizendo uma coisa que já tinha caído. Depois a gente alugava apartamento por temporada.
FOLHA - A senhora chegou a receber Iara Iavelberg em casa?
DILMA- Eu não tinha casa, minha filha. Ela, uma vez, me levou para ficar num apartamento que ela conseguiu e eu não perguntei. A gente não perguntava. Era um apartamento meio vazio, que só tinha cama, uma geladeira e fogão.
FOLHA - Eu li a biografia dela e lá conta que ela levou a senhora no Jambert para cortar o cabelo...
DILMA- Ela levou sim. Ela gostava muito de bons cabeleireiros, ela tinha muito bom gosto.
FOLHA - Mas era meio incompatível com a rotina que vocês tinham, não?
DILMA- A gente andava na rua, entramos num cabeleireiro, cortamos e saímos.
FOLHA - Mas era um salão chiquíssimo, que servia champanhe aos clientes...
DILMA- Pois é minha querida, você entra e sai. Igual a todo mundo.
FOLHA - Não era contra os princípios de vocês? Pelo visto, não...
DILMA- Que princípios, querida? Fui lá, o cara era... não cabe dizer por que nós fomos lá, não vou falar não, santa.
FOLHA - Vocês foram lá cortar no melhor cabeleireiro...
DILMA- Ela tinha amizade lá, cortamos o cabelo e fomos embora.
FOLHA - Beberam champanhe?
DILMA- Não me lembro disso clarinho como foi, não me lembro do lugar que era. Lembro que fui cortar o cabelo com ela e chamava Jambert. E que era um bom cabeleireiro e que ele cortou o cabelo bem bonitinho em mim.
FOLHA - Durou o corte? O grande poder de argumentação dela era esse, que não precisava cortar mais por um bom tempo...
DILMA- A gente ficava sem cortar... olha, eu acho que cai [fui presa] com ele, se eu não me engano. Não, depois eu cortei uma vez. Entrei em outro lugar em São Paulo e cortei. Cortei mais umas duas vezes. Era um bom lugar, mas não é uma coisa relevante na minha vida.
FOLHA - Eu achei curioso. Desculpe-me por perguntar...
DILMA- Pode perguntar. Ela era uma pessoa interessantíssima, uma pessoa sem preconceito e, além de tudo, com uma imensa afetividade.
FOLHA - Ministra, no Rio a senhora acompanhou a fusão e acompanhou o racha. A senhora chegou a ir ao congresso de Teresópolis?
DILMA- Eu cheguei.
FOLHA - E teve essa história do site Ternuma (Terrorismo nunca Mais), dos militares, que o Darcy Rodrigues [que rachou com a VAR] tentou agredir a senhora porque foi contra?
DILMA- Não. Eu era bastante amiga do Darcy. Eles [os militares] reescrevem a história.
FOLHA - Foram mais de 20 dias. Deve ter sido um Congresso extremamente tenso porque ninguém entrava nem saía...
DILMA- Na minha cabeça, eu só lembro que a gente conversava e discutia muito, debatia. Tinha uma infraestrutura complexa porque a gente não saía de lá, não podia aparecer. Bom não era. Mas, naquela época, você achava que estava fazendo tudo pelo bem da humanidade. Nunca se esqueça que a gente achava que estava salvando o mundo de um jeito que só acha aos 19, 20 anos. Sem nenhum ceticismo, com uma grande generosidade. Tudo fica mais fácil. Tudo fica mais justificado, todas as dificuldades. Você não ter roupa não tem problema. Você perdia a roupa toda. Às vezes andava com uma calça xadrez e uma blusa xadrez.
FOLHA - A senhora faz algum mea-culpa pela opção pela guerrilha?
DILMA- Não. Por quê? Isso não é ato de confissão, não é religioso. Eu mudei. Não tenho a mesma cabeça que tinha, seria estranho que tivesse a mesma cabeça. Seria até caso patológico. As pessoas mudam na vida, todos nós. Eu não mudei de lado não, isso é um orgulho. Eu mudei de métodos, de visão. Inclusive por causa daquilo eu entendi muito mais coisas.
FOLHA - Como o que?
DILMA- O valor da democracia, por exemplo. Por causa daquilo, eu entendi os processos absolutamente perversos. A tortura é um ato perverso. Tem um componente da tortura que é o que fizeram com aqueles meninos, os arrependidos, que iam para a televisão. Além da tortura, você tira a honra da pessoa. Acho que fizeram muito isso no Brasil. Por isso que, minha filha, esse seu jornal não pode chamar a ditadura de ditabranda, viu? Não pode não. Você não sabe o que é a quantidade de secreção que sai de um ser humano quando ele apanha e é torturado. Você não imagina. Porque essa quantidade de líquidos que nós temos, que vai do sangue, a urina e as fezes aparecem na sua forma mais humana. Então, não dá para chamar isso de ditabranda não.
FOLHA - Quando a senhora foi presa, foram apreendidos documentos falsos, um desenho da VAR e foi um bilhete de amor assinado com as iniciais TG. Era do Galeno [Cláudio Galeno Linhares, primeiro ex-marido]?
DILMA- Não, era do Carlos Araújo.
FOLHA - E por que TG?
DILMA- Era um apelido dele.
FOLHA - A senhora tem cópia? Eu tenho uma cópia.
DILMA- Não. Ah, se você quiser mandar, eu agradeço.
FOLHA - A senhora já estava separada do Galeno?
DILMA- Já, eu separei bem antes. Quando eu saí de Minas Gerais, na minha cabeça, eu já estava separada dele.
FOLHA - Vocês noivaram, casaram como prevê a tradição, família e propriedade?
DILMA- Não. Namoramos e casamos na tradição da esquerda da época. Só pode casar no cartório.
FOLHA - E as reuniões eram na avenida João Pinheiro, no Condomínio Solar [em Belo Horizonte]?
DILMA- Eu tinha um apartamento, que na verdade não era meu, era da minha mãe. Quando eu casei, ela me emprestou. Quando eu saí de lá, eles devolveram porque eu nunca mais fui vista.
FOLHA - Vou ler o bilhete...
DILMA- Aonde que está isso, hein?
FOLHA - Está no inquérito arquivado no STM. O bilhete começa assim: "Nega querida, infelizmente não poderei estar ai nos dias combinados por motivos totalmente imprevisíveis. Isto, contudo, não voltará a ocorrer. Verás na prática, prometo-te...
DILMA- Essa quantidade de te, você acha que é de mineiro, pô? Isso é de gaúcho. Tudo no te...
FOLHA - Os militares acreditaram que era do Galeno.
DILMA- É lógico, eles não sabiam. Eu não falei no meu depoimento sobre o Carlos. Ele foi preso em agosto. Eles acreditavam que era Galeno. O Carlos era da direção, então eu não podia abrir a boca. Depois que eles descobriram.
FOLHA - Inclusive, no depoimento da senhora, eles dão outro nome a ele.
DILMA- (Risos) Pedro Pacheco Garcia, essa eu ri muito.
FOLHA - Como foi, durante os dias de Oban, para conseguir proteger a direção. Pelo que vi, alguns nomes não foi possível proteger como a Maria Joana Telles, o Ruaro, o Vicente...
DILMA- Eles sabiam deles porque tinha caído outra pessoa que era da direção. Foi por isso que caí. Eu caí porque caiu uma outra pessoa.
FOLHA - Era com quem a senhora teria um encontro...
DILMA- Era com quem teria um encontro.
FOLHA - Era o José Olavo?
DILMA- Essas coisas eu não quero falar não, viu minha filha? Não quero dar responsabilidade para ninguém não. Estou muito velha para fazer isso.
FOLHA - No depoimento da Justiça, a senhora cita os quatro como tendo caído em consequência direta de sua queda. A senhora dá os quatro nomes?
DILMA- É. Caíram, ponto.
FOLHA - Eu conversei com o hoje coronel, antigo capitão Maurício...
DILMA- Ele existe ainda?
FOLHA - Existe, é um senhor de 74 anos que vive no Guarujá...
DILMA- Ele já não batia bem da bola. Ele continua sem bater?
FOLHA - Eu perguntei se ele votaria na senhora para presidente. Primeiro, disse não. Depois, pediu para retificar dizendo que "depende com quem ela vai concorrer". Ele elogiou a senhora bastante, falando que era uma excelente guerrilheira.
DILMA- Minha querida, pelo amor de Deus.
FOLHA - Só estou reproduzindo o que ele me disse.
DILMA- Eu sei. Sabe o que é, a vida é um pouquinho mais complicada que isso.
FOLHA - Em que sentido, ministra?
DILMA- Em todos. Mas eu respeito o que ele falou, tá?
FOLHA - Ele participava das sessões [de tortura]?
DILMA- Não. Ele era da equipe de busca, nunca participou. Mérito dele isso. Nunca participou não, pelo menos enquanto estive na Oban. Não posso dizer depois.
FOLHA - Ele saía para levar as pessoas...
DILMA- Você tinha aquele negócio de dar ponto para parar de apanhar, e ele levava as pessoas. Ele era da equipe de busca e apreensão. Ele fez a busca em toda minha casa. Ele pegava as coisas e perguntava sobre elas. Ele mostrava, falava que era impossível estar morando ali. Para mim ele, fez várias vezes porque eu disse que estava morando em Santos. Eu disse que morava lá.
FOLHA - No depoimento à Justiça, a senhora cita ele como responsável pelas sessões de torturas.
DILMA- Lembro perfeitamente que ele entrava na sala, mas que ele torturava nunca vi pessoalmente. A mim não foi. Agora que ele entrava na sala e via tortura, tenho certeza. Qualquer um entrava naquela sala. Te torturavam com a porta aberta, minha filha.
FOLHA - Ele disse que a história da senhora era muito furada. Vocês tinham que criar uma história, não é?
DILMA- É minha filha, de preferência. Porque, sem história, você não sobrevive não.
FOLHA - Qual foi a da senhora?
DILMA- Ah, não me lembro não. Não tenho a menor ideia da quantidade de coisas que falei.
FOLHA - Não podia cair em contradição...
DILMA- Não tem muita dificuldade. Você cria um quadrado e fica dentro dele.
FOLHA - Li uma entrevista em que a senhora diz que fez treinamento no exterior. Mas não consegui encontrar o período que isso pode ter acontecido. Deu tempo de sair do Brasil para treinar?
DILMA- Eu acho engraçadíssimo porque quando me perguntaram isso, eu neguei que tivesse feito. Não acredita e fala que eu falei que fiz.
FOLHA - Não deu tempo de jeito nenhum, não é?
DILMA- Então, minha filha, esclarece. Eu não falo isso mais. É que nem aquela lista que sai aí dizendo que eu fiz dez assaltos armados.
FOLHA - Inclusive atribuindo ações de outras organizações...
DILMA- Eu nunca fiz uma ação armada e se tivesse ação armada eu estaria condenada por isso. É mesma coisa essa história do treinamento. Eu nunca fiz, então, tudo bem. Eu não fiz nem treinamento no exterior nem ação armada. É só perguntar para as pessoas.
FOLHA - Já perguntei...
DILMA- Elas sabem disso. Agora, minha santa, a lista você vai olhar...
FOLHA - Já olhei, há muitas ações em São Paulo [no período em que a senhora não estava lá]...
DILMA- Eu acho chatíssimo ficar negando.
FOLHA - Incomoda a senhora atribuir essas ações a seu nome?
DILMA- Sempre que falam uma coisa que você não fez ou atribuem coisas que você não fez, incomoda. É chato. Não sou supermulher para dizer que não me incomoda. Agora não perco a cabeça por isso, só acho um absurdo. Estão mentindo, têm uma segunda intenção. Tem coisas nesse período que eu não discuto porque, para discutir, precisa de outro tipo de enfoque. Não dá para discutir com superficialidade. Não posso discutir o que aconteceu com meus companheiros nem atribuir a eles coisas, porque implicaria que eu estivesse fazendo algo como se fosse uma avaliação crítica e me colocando de fora.
FOLHA - Não teve treinamento no exterior, mas o básico todo mundo sabia como montar e desmontar uma arma. Era questão de segurança do dia a dia?
DILMA- Tinha gente que achava isso o máximo, tinha gente que não achava. Eu vou te dizer, sempre fui muito dedicada mas não achava isso grande coisa. Rigorosamente falando, nunca fiquei avaliando, naquele momento, se devia fazer isso ou aquilo. Seria irreal se eu te falasse isso. Nunca pensei, devo fazer isso ou devo fazer aquilo? Não se colocava assim para nós. Falavam assim: "vai ali e aprende a desmontar e desmontar a arma". Você ia e aprendia. "Vai ali e escreve um documento". Você também ia.
FOLHA - Na casa do [capitão Carlos] Lamarca foi encontrado um documento com uma lista de pessoas que deviam se dar prioridade em caso de troca com sequestrados. O nome da senhora estava lá, mas a senhora cumpriu a pena no Tiradentes e nunca foi trocada. Por que?
DILMA- Não tenho a menor ideia, nem sabia disso.
FOLHA - Como era o dia-a-dia da prisão? Algumas companheiras de cela dizem que a senhora dava aula de macroeconomia, mas não gostava muito dos trabalhos manuais de tricô e crochê...
DILMA- Aprendi bem. Sei fazer tricô e crochê.
FOLHA - Ainda faz?
DILMA- Olha, você sabe que eu faço tapete? Mas não aprendi tapete lá não. Mas eu fazia muito bem crochê. Podem falar que eu não fazia... (risos)
FOLHA - Falavam que não gostava muito...
DILMA- No fim, eu gostava de fazer crochê.
FOLHA - E as aulas de macroeconomia? Falavam que a senhora tinha 22 anos, mas dava aula como se fosse uma experiente economista.
DILMA- Estão fantasiando, estão fantasiando...
FOLHA - São suas amigas, o que eu posso fazer?
DILMA- Mas elas estão fantasiando.
FOLHA - Como era o dia-a-dia na prisão? O que fazia para passar o tempo, muita leitura?
DILMA- Agente lia muito, escutava muita música, conversava muito, jogava vôlei.
FOLHA - Dava para ter algum controle sobre o que a organização estava fazendo do lado de fora?
DILMA- Não, nenhum. Eu, pelo menos, nunca tive. Se falarem, estão mentindo. Mesmo através das famílias, era um risco muito grande. Não acredito não. Era muito difícil. Era um nível de controle muito alto. Eles iam lá e olhavam livros dentro do presídio, acho até que foi com capitão Maurício.
FOLHA - O Gilberto Vasconcelos [militante da VAR] contou que, às vezes, buscavam um preso para torturar porque estavam de plantão na madrugada e não tinham o que fazer...
DILMA- Isso tinha muito mesmo. Tinha me esquecido disso. Eu gosto muito dele, do Gilberto.
FOLHA - Ele me disse que não consegue ver um filme ou ler um livro sobre o tema ditadura...
DILMA- Nenhum de nós gosta de ver, verdade seja dita. Eu evito cenas de tortura, essas coisas todas.
FOLHA - Dando uma olhada nos documentos que estão no arquivo, em 1979, quando a senhora já tinha cumprido pena e se formado em economia, a Marinha continuava investigando a vida da senhora e do Carlos Araújo. Eles monitoram um viagem a São Paulo. A senhora tinha consciência que continuava na mira da polícia mesmo depois da prisão?
DILMA- Tinha. Eu não podia fazer aniversário que ficavam todos pendurados nas árvores, olhando. Um dia, saí lá fora [no quintal da casa em Porto Alegre], e vi três pessoas em cima da árvore. Eu até perguntei: quem está em cima da árvore? Eu sabia que era da polícia.
FOLHA - Como era viver sendo observada?
DILMA- Eu tinha uma vida absolutamente legal.
FOLHA - Na prisão, como a senhora se encontrava com o Max? Ou não encontrava, era por bilhete?
DILMA- Às vezes tinha visita do lado de lá. Duas vezes eu encontrei com ele só, nos quatro anos. Em São Paulo a barra era pesada, minha filha. Não era leve não.
FOLHA - Quando tem o racha, quem assume o comando da nova VAR?
DILMA- Quando tem o racha? Eu não me lembro. Se o Espinosa está dizendo que eu estava... Eu lembro que eu fui em outubro para São Paulo e nunca mais voltei [ao Rio].
FOLHA - A senhora foi assumir o comando urbano de São Paulo?
DILMA- Eu fiquei lá junto com todo mundo que dirigia a VAR na época. Eu só me lembro do José Olavo e de mais um. Não me lembro dos outros, tinha mais. Tinha quatro.
FOLHA - Provavelmente o Antônio Perosa, o Fernando Mesquita...
DILMA- Não me lembro do Perosa lá nessa época.
FOLHA - Muita gente dizia que a senhora era a responsável pelo dinheiro da organização. A senhora era o caixa de São Paulo, para manter militantes, aparelhos?
DILMA- Também não me lembro disso não, que eu era do dinheiro. Se eu fosse do dinheiro, eles tinham me matado a pau. Tudo o que eles queriam era o dinheiro. Não lembro isso não.
*FOLHA - No perfil que o delegado traça a senhora, ele fala que movimentava grandes quantias de dinheiro. E tem vários depoimentos dizendo que a senhora dava dinheiro para a sobrevivência do setor operário, o setor de imprensa.
DILMA- Não me lembro de ter caído com um tostão.
FOLHA - Dinheiro não há registro.
DILMA- Estou te dizendo, se eu tivesse dinheiro ia ser um festival. Eu fui presa com um carro.
FOLHA - Um fusquinha, não é?
DILMA- É, que não sei aonde foi parar.
FOLHA - Esse fusquinha era da senhora, ministra?
DILMA- Não, era da organização.
FOLHA - A senhora dirige?
DILMA- Naquela época não dirigia, hoje eu dirijo.
FOLHA - Está dito que a senhora escalou alguém para ser o motorista daquele carro.
DILMA- Era eu e uma outra pessoa que morávamos juntas, era uma outra moça. Nós andávamos no carro.
FOLHA - O delegado ficou bem impressionado com a senhora, depois do interrogatório. A ponto de definir a senhora como uma pessoa com dotação intelectual apreciável, entre aspas.
DILMA- Tinha um juiz auditor louco (risos). Ele fez uma denúncia dizendo que eu era a Joana D'arc do terror.(Gargalhada) Era ridículo. Ele era dado a essas...
FOLHA - Foi o promotor militar.
DILMA- Não foi o pobrezinho do juiz, que a gente falava mal dele até?
FOLHA - Não, o juiz só usou o que o procurador escreveu. Ele reproduziu...
DILMA- Eram os relatórios que vocês nunca vão ver nem eu, os relatórios que eles fizeram que vinha da Oban. Devem ser esquisitíssimos esses relatórios, o que não era legal. Esses não apareciam, entendeu?
FOLHA - Outra coisa que a gente nunca vai achar são os depoimentos escritos à mão...
DILMA- Você pega o depoimento seu, é ele. É quase igual, porque é onde você fazia a história, entendeu? Por que ela fácil você contar uma história? Porque você fazia um depoimento à mão, minha filha. Faz uma coisa à mão e vê se não se lembra dela direitinho. Eu, se fosse eles, não deixava fazer depoimento à mão. Você montava a história na cabeça.
FOLHA - É muito divertido o perfil que o delegado traça.
DILMA- Quem é o delegado?
FOLHA - Newton Fernandes, do Dops.
DILMA- Essa parte não era pública, essa parte do delegado. Você conseguiu um documento único.
FOLHA - O delegado ficou empolgado. O que a senhora disse para ele achar que era inteligente demais?
DILMA- Não sei, deve ter sido esse negócio que vinha da Oban. A Oban classificava a gente pelo nível de perigo. O major Linguinha [Waldir Coelho] só falava quem achava que era direção. Ele falava comigo sempre. Ele só interrogava quem era direção.
FOLHA - Vou ler para a senhora: "Esposa de Cláudio Galeno Magalhães Linhares (autor do sequestro do avião para Cuba, onde se encontra). Pertenceu ao comando nacional da Colina, coordenadora dos setores operário e estudantil da VAR-Palamares em São Paulo, como também do setor de operações. Manipulava grandes quantias para a VAR-Palmares. É antiga militante de esquemas subversivo terrorista. Através de seu interrogatório, verifica-se ser uma das molas mestras e um dos cérebros dos esquemas revolucionários postos em prática pela esquerda radical. Trata-se de pessoa com dotação intelectual apreciável". Essa é você...
DILMA- Interessante... Da onde ele tirou isso, né? Nem me lembro dele. A gente não dava importância para o delegado do Dops, só para a Oban. Deve ter vindo da Oban. Eu sou presa da Oban.
FOLHA - A senhora não pegou o delegado Sérgio Fleury no Dops?
DILMA- Quando entrei no Dops, o Fleury não estava no Dops, estava em viagem. Pelo menos é isso que eu lembro. Passei quase um mês na Oban e um mês no Dops. Eu custei ir embora da Oban.
FOLHA - Do dia da prisão até o depoimento na polícia, são 40 dias.
DILMA- Então fiquei 40 dias. Porque você começa a fazer no Dops uma coisa que chamava cartório. Eu lembro que era muito tempo, eu achava estranho eu não ir embora. Todo mundo ia, e eu ficava. Eu não lembro a data. Vai ficando muito obscuro, como foi como é que não foi.
FOLHA - Vocês passavam por um treinamento intensivo para deletar as coisas. Tinha que esquecer para não contar?
DILMA- Tinha, uma parte você tentava esquecer. Sabe que teve uma época que eu falei uma coisa que eu achava que era verdade e não era. Sobre um fato que aconteceu. Era mentira que eu tinha contado e ai depois eu descobri que era mentira. Você conta e se convence. Tinha hora que era muito difícil você manter.
FOLHA - Informação obtida sob tortura é de responsabilidade de quem tortura e não de quem fala? Dá para culpar a pessoa que falou?
DILMA- Não dá mesmo. Até porque ali, naquela hora, tinha uma coisa muito engraçada que eu vi. Aconteceu com muita gente, não foi só comigo. É por isso que aquela pergunta é absurda do senador [Agripino Maia, do DEM]. A mentira é uma imensa vitória e a verdade é a derrota. Na chegada do presídio [Tiradentes] estava escrito "Feliz do povo que não tem heróis", que era uma frase do Brecht que tem um sentido amplo. Esse fato de não precisar de heróis mostra uma grande civilidade. O povo que precisa de heróis precisa de heróis anônimos. Precisa que cada um tenha um pouco de heroísmo.
FOLHA - Quando a senhora chegou à Oban, houve muitos gritos, palavrões?
DILMA- Teve. Fazia parte do script. É uma luta eterna entre a sua autodestruição e sua luta para ficar inteiro psicologicamente. De fato é uma disputa moral.
FOLHA - É um jogo a relação torturador/torturado?
DILMA- Não. A palavra correta é uma disputa moral no sentido amplo da palavra moral. É uma disputa entre éticas diferentes, entre princípios diferentes. Uma pessoa que se dispõe a fazer a outra ter dor tem um processo de difícil identificação. Eu fico imaginando o que deve ter sido foi Abu Ghraib, porque bota de um lado americanos e de outro lado um outro mundo. E se fala que é pior. Eles também faziam isso conosco. Você tem de ser desqualificado como ser humano para ser torturado, santa, senão você não é.
FOLHA - E a família da senhora, como reagiu a isso tudo?
DILMA- Minha mãe reagiu muito bem.
FOLHA - Ela ainda é viva?
DILMA- Ela é e não vai falar não. Nem ela nem meu irmão. A minha família não fala sobre isso.
FOLHA - Eles visitavam a senhora?
DILMA- Sistematicamente. Minha mãe foi absolutamente fantástica. Eles tinham horror de mãe. Agora vou desligar porque o Lobão [ministro Edson Lobão, de Minas e Energia] me espera.
FOLHA - Só para deixar claro, a senhora não se recorda desse plano para sequestrar o ministro Delfim Netto?
DILMA- Não. Eu acho que o doutor Espinosa fantasiou essa.
FOLHA - Será?
DILMA- Sei lá o que ele fez, eu não me lembro disso. E acho que não compadece com a época, entendeu? Nós acabamos de rachar com um grupo, houve um racha contra ação armada e vai sequestrar o Delfim? Tem dó de mim. Alguém da VAR que você entrevistou lembrava-se disso?
FOLHA - O Juarez [Brito] ainda na Colina tinha pensado em...
DILMA- Ah, santa, então isso é coisa dele.
FOLHA - Ele não conseguiu executar e o Espinosa disse que, depois do racha, continuaram com o plano. O levantamento estava todo pronto, havia o mapa e eles iriam fazer [o sequestro] num fim de semana de dezembro de 1969. Seria num sítio no interior de São Paulo...
DILMA- Então isso é por conta do Espinosa, santa. Ao meu conhecimento jamais chegou.
FOLHA - Ele disse que comunicou à direção da VAR. Eram cinco integrantes, entre eles a senhora e que a direção deu o aval para continuar o plano, apesar de não saber detalhes.
DILMA- Eu não me lembro disso, minha filha. E duvido que alguém lembre. Não acredito que tenha existido isso, dessa forma.
FOLHA - Ele fala que a responsabilidade de fazer a ação era dele, mas que a direção sabia, foi informada e autorizou.
DILMA- Isso está no grande grupo de todas as ações que me atribuem. Antes era o negócio do cofre do Adhemar, agora parou isso e vem o Delfim. Ah, tem dó minha filha. Você sabe que tem isso. Todos os dias arranjam uma ação para mim. Agora é o sequestro do Delfim? Ele vai morrer de rir.
FOLHA - Delfim Netto disse que não tinha medo não. Às vezes o mandavam tomar mais cuidado, um pouco de cautela, mas que ele nunca levou muito a sério esses conselhos.
DILMA- Tá certo.
FOLHA - De qualquer forma, muito obrigada por tocar nesse assunto delicado...
DILMA- Eu estou te fazendo uma negativa peremptória, para mim não disseram. Tá?
Folha de São Paulo
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