terça-feira, 31 de março de 2009

HOMENAGEM DA MAÇONARIA ÀS FORÇAS ARMADAS









































NOSSOS AGRADECIMENTOS AO PEDRO QUE ESTEVE PRESENTE E GENTILMENTE NOS ENVIOU AS FOTOS.

segunda-feira, 30 de março de 2009

UM SEDER PARA OS NOSSOS DIAS

moacy Scliar

Esta mesa em torno à qual nos reunimos, esta mesa com as matzót e com as ervas amargas, esta mesa de Pessach com sua toalha imaculada, esta mesa não é uma mesa: é mágica embarcação com a qual navegamos pelas brumas do passado, em busca das memórias de nosso povo.

A esta mesa sentemo-nos, pois.

Somos muitos, nesta noite.

Somos os que estão e os que já foram: somos os pais e os filhos, e somos também os nossos antepassados. Somos um povo inteiro, em torno a esta mesa. Aqui estamos, para celebrar, aqui estamos para dar testemunho.

Dar testemunho é a missão maior do judaísmo. Dar testemunho é distinguir entre a luz e as trevas, entre o justo e o injusto. É relembrar os tempos que passaram para que deles se extraia o presente a sua lição.

Olhemos, pois, a matzá que está sobre a mesa.

Este é o pão da pobreza que comeram os nossos antepassados na terra do Egito. Quem tiver fome – e muitos são os que têm fome, neste mundo em que vivemos – que venha e coma. Quem estiver necessitado – e muitos são os que amargam necessidades, neste mundo em que vivemos – que venha e celebre conosco o Pessach.

É o legado ético de nosso povo, a mensagem contida neste simples alimento, neste pão ázimo que o sustentou no deserto, e o que o vem sustentando ao longo das gerações. É preciso ser justo e solidário, é preciso amparar o fraco e ajudar o desvalido.

O deserto que hoje temos de atravessar não é uma extensão de areia estéril, calcinada pelo sol implacável. É o deserto da desconfiança, da hostilidade, da alienação de seres humanos. Para esta travessia temos de nos munir das reservas morais que o judaísmo acumulou, das poucas e simples verdades que constituem a sabedoria do povo. Ama teu próximo como a ti mesmo. Reparte com ele teu pão. Convida-o para tua mesa. Ajuda-o a atravessar o deserto de sua existência.

Tu me perguntas, meu filho, porque é diferente esta noite de todas as noites. Porque todas as noites comemos chametz e matzá, e esta noite somente matzá. Porque todas as noites comemos verduras diversas, e esta noite somente maror.

Porque molhamos os alimentos duas vezes.

Porque comemos reclinados.

Eu te agradeço, meu filho. Agradeço-te por perguntares. Porque, se me perguntas, não posso esquecer: se indagas, não posso ficar calado. Por tua voz inocente, meu filho, fala a nossa consciência. Tua voz me conduz à verdade.

Por que esta noite é diferente de todas as noites, meu filho?

Porque esta noite lembramos.

Lembramos os que foram escravos no Egito, aqueles sobre cujo dorso estalava o látego do Faraó.

Lembramos a fome, o cansaço, o suor, o sangue, as lágrimas.

Lembramos o desamparo dos oprimidos diante da arrogância dos poderosos.

Lembramos com alívio: é o passado.

Lembramos com tristeza: é o presente.

Ainda existem Faraós. Ainda existem escravos.

Os Faraós modernos já não constroem pirâmides, mas sim estruturas de poder e impérios financeiros. Os Faraós modernos já não usam apenas o látego: submetem corações e mentes mediante técnicas sofisticadas.

Seus escravos se contam aos milhões, neste mundo em que vivemos. São os negros privados de seus direitos, na África do Sul; os poetas que, em Cuba, não podem publicar seus versos; os imigrantes a quem, na Europa, está reservado o trabalho pesado e a hostilidade dos grupos fascistas; os refuseniks soviéticos que clamam por sua identidade; as mulheres e os jovens fanatizados pelo regime do Aiatolá, os prisioneiros políticos do Chile, os famélicos do Sahel e do nordeste brasileiro, as populações indígenas lentamente exterminadas em tantos lugares; os operários explorados e os camponeses sem terra.

Para estes, ainda não chegou o dia da travessia.

Estes ainda não encontraram a sua Terra Prometida.

Para eles, a vida ainda é amarga como o maror.

É a eles também que lembramos nesta noite, meu filho. Com eles repartirmos, em imaginação, o nosso pedaço de matzá.

Não sejas como o ingênuo, que ignora os dramas de seu mundo.

Não sejas como o perverso, que os conhece, mas nada faz para mudar a situação.

Pergunta, meu filho, pergunta tudo o que queres saber – a dúvida é o caminho para o conhecimento.

Mas quando te tornares sábio, procura usar a tua sabedoria em benefício dos outros. Reparte-a, como hoje repartirmos nossa matzá. Segue o conselho de nossos sábios, e lembra a saída do Egito, não só na noite de Pessach, mas todos os dias de tua vida.

Falemos deste povo, então. Falemos dos judeus: pequeno grupo humano que viria a desempenhar um grande papel na história da humanidade.

Um povo inquieto. Um povo que não buscava o repouso, nem para si, nem para os outros povos.

Há cerca de 4000 anos a trajetória deste povo teve início - quando Abraão deixou o seu lugar de origem, na região entre o Tigre e o Eufrates, para ir a Canaan. Pois disse-lhe o Senhor:

"Sai de tua terra, e da terra de tua gente, e da casa de teu pai, e vem para a terra que eu te mostrarei;

Eu farei de ti uma grande nação, e te abençoarei, e farei grande teu nome;e serás uma benção;

E eu abençoarei quem te abençoar, e amaldiçoarei quem te amaldiçoar; e em ti serão todos os povos da terra abençoados." (Gênesis 12, 1-3)

Mas não cessou com a chegada a Canaã e peregrinação judaica. Povo nômade, os hebreus deslocavam-se constantemente. E por isso não construíram grandes cidades, nem monumentos comparáveis às pirâmides. O que os hebreus levavam consigo, em suas migrações, era a sua tradição, era a palavra do Senhor, da qual eram guardiães; a palavra que deu origem ao livro sagrado, a Bíblia, seu grande legado para a humanidade.

De Abraão nasceu Isaac, de Isaac Jacob, e de Jacob, José e seus irmãos.

José, o vidente; José, que se tornou vizir do Faraó. Com José foram ter seus ingratos irmãos, quando a fome assaltou as terras de Canaã. Na terra de Goshen foram viver, e ali se multiplicaram como as estrelas no céu e os grãos de areia das praias do mar.

Mas então nuvens negras surgem neste céu tranqüilo.

Um novo Faraó reina no Egito; ele teme que os filhos de Israel, agora numerosos, se rebelem contra ele. E decreta: toda criança judia, de sexo masculino, deve ser morta ao nascer.

Mas um menino escapa. O destino poupa-o para ser o libertador de seu povo: é Moisés, que a filha do Faraó salva das águas para dele fazer um príncipe.

Moisés, Príncipe do Egito, Moisés, poderoso entre os poderosos.

Há um instante na vida de cada homem em que ele se vê diante de seu destino. Um instante em que lhe é dado fazer a escolha transcendente, a escolha que será o divisor de águas de sua existência.

Este instante chegou para Moisés. Diante do feitor que espancava cruelmente o escravo judeu, ele não hesitou: tomou o lado do fraco contra o forte, do oprimido contra o opressor. Jogou sua sorte com a sorte pobre, desprotegido povo.

E então que Deus lhe fala.

Não antes do gesto de coragem, mas depois: é como se a divindade só se pudesse revelar depois que Moisés descobriu a si mesmo. Este é o deus de Abraão, o Deus de Isaac, o deus de Jacob; o Deus que fala da sarça ardente, como a indicar que é preciso manter viva a chama da fé e da dignidade. Este Deus estende Sua mão para Moisés, e acena-lhe com a promessa que desde então tem animado a todos os povos: terra e liberdade, liberdade e terra. A doce liberdade, a fértil terra da qual fluiria o leite e o mel.

E então, acompanhado de Araão, que por ele falava, Moisés foi ter com o Faraó e disse: Deixa meu povo sair.

Deixa meu povo sair. Era a primeira vez que ecoava esta frase no reduto do poder, mas não seria a última.

Nas masmorras dos romanos: deixa meu povo sair.

Nos guetos medievais: deixa meu povo sair.

Nas aldeias ameaçadas pelos pogroms: deixa meu povo sair.

Na Alemanha nazista: deixa meu povo sair.

Na Rússia, na Síria, na Etiópia: deixa meu povo sair.

Este apelo desesperado não encontra eco.

A insensibilidade dos poderosos torna-os surdos e cegos.

O sofrimento dos oprimidos clama aos céus.

E os céus respondem com fúria. Mas a divindade poupa a seu povo o ódio. Minha é a vingança, diz o Senhor. Só Deus pode dosar o castigo do ímpio, de maneira a não pagar injustiça com injustiça. São as forças da natureza que Adonai mobiliza para punir os pecadores; como a sugerir que a própria natureza se revolta contra a iniquidade.

E vêm as pragas.

As águas se transformam em sangue. Feras atacam os homens. Gafanhotos devoram as colheitas. Pestilências ceifam vidas. O granizo cai sobre as plantações. As trevas reinam sobre a Terra. Castigos terríveis, mas que nos soam estranhamente familiares.

Pois hoje, como ontem, seres humanos fazem da natureza palco de luta contra outros seres humanos.

A casa do homem é uma casa dividida. Punhos se erguem ameaçadores, vozes bradam iradas. A ganância e a especulação sobrepujam a solidariedade e a compensação.

E de novo as pragas nos ameaçam.

As águas já não se transformam em sangue, mas nos rios poluídos e nos mares envenenados os peixes bóiam mortos.

As pragas que devoravam as colheitas foram repelidas, mas ficam nos frutos da terra os resíduos dos venenos usados. Indiscriminadamente.

As feras que os homens temiam hoje são pobres criaturas em extinção. Mas o tigre com dentes atômicos faz ouvir o seu rugido, os submarinos nucleares percorrem os mares como sinistros Leviatãs.

Enquanto enormes contingentes humanos vegetam na mais espantosa miséria, há nas metrópoles uma minoria que busca no consumismo desenfreado, no álcool e na droga, a satisfação que jamais encontra.

As trevas reinam sobre a Terra, mas não são as trevas resultantes de um sol eclipsado; são, isto sim, as trevas do obscurantismo, que alimenta o fanatismo e arma o braço do terrorista.

As pestilências de outrora deram lugar às doenças da civilização, igualmente mortíferas; e de outra parte, se perpetuam entre aqueles que não têm acesso às conquistas da medicina.

Dir-se-ia que os homens não aprendem. Que a escalada do erro – e do castigo – não tem fim.

A paciência do Senhor chega a seu término. Decide dar ao faraó a prova definitiva de Seu poder: os primogênitos serão exterminados. Mas pelas portas das casas judaicas, untadas com o sangue do animal sacrificado, a ira do Senhor passará sem se deter. É a Páscoa: a passagem.

Mais uma vez Deus avoca a si o castigo. Pois somente a um desígnio insondável tão espantosa punição pode ser atribuída. E o Faraó cede. Por fim, o Faraó cede. Podeis partir, ele diz a Moisés e Araão. E os judeus partem. Às pressas: o pão que levam sequer pode fermentar. É da matzá que eles agora comerão.

E há razão para a pressa. Os poderosos não costumam honrar compromissos. Promessas são esquecidas, tratados são rasgados. E os exércitos do Faraó vão no encalço dos fugitivos, surpreendem-nos às margens do Mar Vermelho.

Mais uma vez Deus protege seu povo. Mais uma vez um prodígio da natureza dá testemunho da aliança sagrada. As águas do mar se abrem diante dos hebreus e se fecham sobre as armadas do Faraó. É o castigo definitivo. É um castigo, mas não é um ato de ódio. Pois, conta o Talmud, depois que os judeus atravessaram o Mar Vermelho, entoaram um hino de agradecimento ao senhor – que Ele recusou dizendo: "Não cantareis enquanto meus outros filhos se afogam". A violência? Sim, é permitida, como resposta à violência. Mas não é permitido a ninguém alegrar-se na violência. Ao fim e ao cabo, somos todos irmãos. Mesmo quando um destino trágico nos coloca face a face, armas na mão. Uma lição que vale para o Oriente Médio de nossos dias.

Esta é a narrativa do Êxodo. Dela, o que é lenda? O que é História?

Impossível saber. Na poeira do tempo confunde-se fantasia e realidade, fato e imaginação.

Não importa, porém. Não é o fato histórico que conta, mas sim a lição que dele se extrai. Como diz o Seder: "Em toda geração deve o homem considerar como se tivesse saído do Egito". Neste, como está sintetizada toda a gama de possibilidades que a tradição, mais que o frio relato dos acontecimentos, proporciona aos seres humanos.

A possibilidade de evocarmos, por uma noite que seja, o terror da escravidão.

A possibilidade de vivermos, por uma noite que seja, a glória da libertação.

Como se é suficiente. Uma noite é suficiente.

Foi numa noite que Jacob lutou contra o anjo, e, vencendo-o, tornou-se Israel, legando-nos esta lição: que um povo tem de lutar por sua identidade, ainda que desafiando os mensageiros do Senhor.

Foi numa noite que Daniel foi salvo da cova dos leões, mostrando que o justo nada tem a temer, nem mesmo as feras selvagens.

Foi numa noite que o perverso Haman foi condenado e o povo judeu foi salvo.

Porque a justiça brilha na escuridão da noite como a luz do dia.

Sentemo-nos, pois, em torno à mesa nesta noite, e tomemos o vinho de Pessach, doce como a liberdade. E falemos da doçura de ser livres; falemos principalmente aos jovens. Sigamos o que diz o nosso Seder: "contarás a teu filho".

Porque a mensagem de Pessach é dirigida sobretudo às crianças e aos jovens. Como sentinelas na noite, temos de velar por eles, velar para que recebam a mensagem de liberdade.

Pessach é a festa das gerações. É a festa em que os pais falam a seus filhos.

E é por isso que a festa do Pessach é celebrada em família. Não num templo, mas em casa. Em torno a uma mesa, de modo que as pessoas se possam olhar, de modo que o filho possa ouvir do pai o simples, eloqüente relato.

A saga de um pequeno povo de incultos nômades que ensinou a um poderoso império uma lição de justiça e de dignidade.

Esta é a lição que os judeus vem repetindo ao longo de muitos e muitos séculos.

Nos dias esplendorosos do Templo de Jerusalém e nos amargos tempos da dispersão. No Galut e agora, em Israel. Os prodígios da saída do Egito ficaram reverberando pelos séculos afora. Pois tantos foram, e tão notáveis, que evocá-los leva-nos ao limite do suportável: daienu, diz o Seder: bastar-nos-ia.

Se nos tirasse do Egito e não os justificasse, bastar-nos-ia.

Se não abrisse o mar, se não nos desse o maná, se não nos desse o Sábado, se não nos desse a Torá - bastar-nos-ia.

O primeiro agradecimento ao Senhor é pela liberdade: se nos tirasse do Egito, bastar-nos-ia.

Todo o resto é conseqüência. O maná, a Lei, a Terra prometida, tudo é decorrência da libertação do povo. Falemos da luta pela liberdade. Falemos do gueto de Varsóvia. No começo da Segunda Guerra, Varsóvia era um centro judaico de primeira grandeza, célebre por suas ieshivot, seu teatro ídiche, seus centros culturais, seus artistas e escritores.

Mas então veio a invasão nazista, e com ela a fria deliberação de transformar a cidade num portal para o inferno. Quase meio milhão de pessoas foram confinadas na minúscula área do gueto, cercado e isolado. Logo a fome, a falta de higiene, as doenças começaram a fazer suas vítimas. A um ritmo que não era satisfatório para os nazis: em julho de 1942 começaram as deportações – para os campos de Treblinka, Auschwitz, Maidanek e Belsen.

Foi então que as organizações juvenis adotaram uma decisão: a de resistir até o fim. Armas e munição omeçaram a ser contrabandeadas para o gueto...

Na madrugada de 19 de abril de 1943 um tiro ecoou na rua Nalewki. Era o sinal para a rebelião, que oporia 40.000 remanescentes da população judaica, lutadores famintos e mal armados, contra a poderosa máquina de guerra nazista. Durante semanas os combatentes resistiram. O comandante do levante, Mordechai Anielewicz e seus companheiros, morreram lutando no quartel-general da Rua Mila, 18. Ninguém se rendeu.

Não podemos falar em liberdade sem falar no Gueto de Varsóvia. Não podemos falar em liberdade enquanto outros guetos existirem em nosso mundo.

Agora, meu filho, vamos colocar vinho neste copo, e vamos abrir a porta.

Perguntas se estamos esperando alguém.

Sim, esperamos alguém. Esperamos Eliahu Hanavi, o Profeta Elias, o precursor do Messias. É um hóspede ilustre, aguardado há ‘séculos. Até hoje não veio, e não é certo que nos visite esta noite. Não tem importância. O importante é que nossa porta esteja aberta. Para o profeta ou para o nosso vizinho; para o Messias ou para o pobre que nos vem pedir um pouco de comida. Que espiem, os de fora, por estar a porta aberta. Que vejam uma família reunida em torno à mesa, celebrando. Que constatem: eles nada têm a esconder. Eles não praticam rituais secretos, eles não são uma seita misteriosa. São gente como a gente. Os cristãos, os judeus, os muçulmanos, os budistas, somos todos iguais. Nossas festas têm nomes diferentes, ocorrem em datas diferentes, mas no fundo, une-nos a alegria da celebração.

Eu sei, meu filho, que nem todos pensam assim.

E é por isso que a porta precisa ficar aberta.

Para que o profeta Elias venha, anunciando a paz entre os povos.

A travessia do Mar Vermelho não pôs fim aos infortúnios do povo judeu.

Muito teriam eles de vagar, ainda, na desolação do deserto. Foi uma dura prova, a que nem sempre resistiram. Quando mais forte se tornou o assédio da fome e a sede, foram queixar-se a Moisés: tu nos trouxeste ao deserto, disseram, para que aqui morramos à míngua. E em seu desespero, chegavam a lembrar com saudade os tempos do Egito: éramos escravos, mas tínhamos o que comer.

Como Esaú, estavam dispostos a trocar sua dignidade por um prato de comida.

Deus não os castigou. Ao contrário: deu-lhes o manjar do céu. O Maná, e as tábuas da lei.

Nesta ordem: o alimento e depois o mandamento. A nutrição para o corpo, seguida do dever espiritual. E esta é mais uma lição que o judaísmo, na sua sóbria e milenar sabedoria, nos transmite: não se pode exigir deveres morais de quem tem fome. Os direitos humanos começam pelo simples, e pelo elementar. Os direitos do homem começam por um pedaço de pão, ázimo ou não.

Vejo, meu filho, que encontras o afikoman que escondi.

Muito bem, tens direito a uma recompensa.

O que queres? É uma história, que queres?

Muito bem. Deixa que te conte então uma história muito curta. É a história de um homem e de sua mala. O homem já não vive; a mala, que eu saiba, já não existe.

Mas a mala estava com a família desse homem há muitas gerações. Nesta mala ele colocou todas suas coisas quando, jovem ainda, deixou sua casa, numa aldeia da Rússia czarista, e foi para a Polônia, onde esperava viver. Lá ficou alguns anos, até que teve de fugir de novo, por causa da ameaça de bandos anti-semitas. Pegou a mala e foi para a Alemanha, a civilizada Alemanha, pensando encontrar a paz. Mas o ano era 1939...

Conseguiu fugir para o Brasil, sempre com sua mala.

Trabalhou duro, no comércio; conseguiu juntar alguma coisa e já estava até esquecendo as privações que passara quando, por ocasião dos distúrbios de rua que se seguiram ao suicídio de Getúlio Vargas, sua loja foi depredada. Ficou tão assustado, que decidiu: daí em diante, nunca mais desmanchou a mala. Estava sempre pronto para partir, a qualquer hora do dia e da noite. Várias vezes pensou que o momento tinha chegado: quando Jânio renunciou, em 1961; quando houve o golpe militar, em 1964, e os policiais prenderam os filhos de seu vizinho. Não chegou a ser necessário. Aparentemente, ele era considerado um homenzinho inofensivo; ninguém se preocupava com ele.No entanto, continuava preparado. Para o Êxodo. Como seus antepassados no Egito, que constantemente evocava. Uma noite um ladrão entrou na casa e roubou-lhe a mala.

E de repente, ele se deu conta: já não podia mais fugir. E assim ficou. Até que uma noite o Anjo da Morte veio chamá-lo; e as pessoas que estavam a seu lado, no quarto do hospital, ouviram-no murmurar baixinho:

Eu não fugi. Eu estou aqui.

Nós estamos aqui. E podemos saborear em paz nosso manjar, nosso afikoman.

Nós o merecemos, como tu o mereceste. Tu, porque o encontraste; nós, porque nos encontramos. Chag Sameach, meu filho.

Da Alecrim, por e-mail

quinta-feira, 12 de março de 2009

Aborto: de la laxa y tantas veces cínica moral de la izquierda - Continuação

Fíjense, por ejemplo, en una de las frases más célebres ofrecidas estos días por algunos de los más destacados dirigentes de la izquierda y líderes de opinión: “Yo no soy partidario del aborto, pero…”, Squeeze dixit. A eso le sigue otra aportación inconmensurable al reino de la hipocresía: “Se trata de crear las condiciones para que no haya embarazos no deseados…”. Y, ¿qué se les ocurre para demostrar que están en contra del aborto y a favor de crear las condiciones para que no haya embarazos no deseados?: ampliar los supuestos de aborto y liberalizar su práctica extendiéndola a la posibilidad de que niñas de 16 años puedan deshacerse de una manera violenta de la vida humana que llevan en su seno sin permiso paterno, lo que en definitiva convierte el aborto en un método anticonceptivo más. Vamos, que echar un polvo sin gomita a los 16 años va a estar a la orden del día, total después pasas por el quirófano y te desprendes de esa ‘cosa’ tan molesta que llevas dentro, ¿no? Eso sí, no se te ocurra comprar tabaco porque el Gobierno de España te pone una multa de aquí te espero, y no te digo nada si se te pasa por la cabeza ponerte al volante de un coche sin carné. Pero matar al ser vivo que llevas dentro, eso va a ser gratis, y todo a mayor gloria del sexo irresponsable.

¡Ah!, pero entonces te salen con eso de los derechos de la mujer y de que los que nos oponemos al aborto nos convertimos en “guardianes de las vidas ajenas” -era algo así, ¿no, Antonio?-, pero, ¿y la vida del no nacido? ¿Esa quién la guarda? Porque ya no hay un solo científico que sostenga que lo que una mujer lleva dentro no es un ser humano, sobre todo teniendo en cuenta que ya ha habido muchos casos de fetos que han sobrevivido fuera del útero materno a partir de las 20 semanas de vida, y la ciencia dice que en un plazo muy breve la esperanza de vida a partir de las 15 semanas será viable. ¿Mataría uno de estos defensores de lo que eufemísticamente llaman ‘interrupción libre del embarazo’ a uno de esos niños una vez nacido? ¿Cuál es la diferencia entre un ser humano dentro del útero materno y fuera del mismo? Si ya sabemos que dentro del útero materno -esto es lo que nos ha aportado la ciencia- es un ser vivo independiente, aunque no autónomo, ¿le negamos los mismos derechos que tiene un ser vivo independiente, pero no autónomo, fuera del útero materno? En base a qué criterio, ¿el de un feminismo mal entendido, o el de una cínica moral que se rasga las vestiduras ante la pena de muerte, pero aplaude y favorece la muerte violenta de seres humanos vivos en el seno materno?

Fíjense que no lo he querido llamar asesinato porque creo que la visceralidad nos hará perder una de las batallas más importantes en este asunto de la defensa de la vida: la del lenguaje, esa que les lleva a ellos a calificar de interrupción una muerte violenta… ¿se imaginan lo que dirían estos hipócritas si alguien calificara de “interrupción voluntaria de una relación de pareja” el asesinato a sangre fría de una mujer por parte de su marido? Pero indudablemente el aborto es un delito, al menos por ahora, siempre que no se circunscriba a la ley que lo despenaliza en unos determinados supuestos. Pese a eso, no hay ninguna mujer en la cárcel por abortar, así que la excusa de que esta ley se hace para evitar esa circunstancia resulta absolutamente arbitraria. Yo nunca metería a una mujer en la cárcel por abortar si este hecho es el producto de unas circunstancias dramáticas, pero cuando una mujer acude al aborto varias veces a lo largo de su vida para resolver la papeleta de haber echado un polvo sin gomita u otro método anticonceptivo, entonces el Estado debería actuar con cierta firmeza, porque la satisfacción personal no está reñida, ni debe estarlo, con la responsabilidad que es una obligación social. Por eso el aborto no puede convertirse en un método anticonceptivo, que es lo que pretende el informe de los expertos que asesoran al Gobierno.

En efecto, la obligación del Estado es, por una razón de salud pública, poner las bases para evitar embarazos no deseados y enfermedades de transmisión sexual, y es aquí, de ahí mi razonamiento del principio, donde debemos separar la razón civil de la razón religiosa: una adecuada educación sexual y el fomento del uso de métodos anticonceptivos son necesarios para lograr estos objetivos. A eso debería unirse una política que éste Gobierno y la progresía en general descuidan conscientemente: la ayuda social, económica y de búsqueda de soluciones menos dramáticas como la adopción, a las mujeres con un embarazo no deseado, antes de proponerles el último recurso del aborto. ¿Por qué no se hace esto? Pues porque, y esta es la raíz del problema, en el fondo la izquierda, incluso aunque nos digan que no son partidarios del aborto, hace del mismo una bandera social, una bandera de conquista de los derechos civiles. Pero es una burda mentira: no hay nada menos progresista que el aborto.

Matar, aunque sea dentro de la ley, es un retroceso. Por eso quienes defendemos la vida estamos totalmente en contra de la pena de muerte, que es otra forma de matar dentro de la ley. En nuestro caso hay una absoluta coherencia, pero no así en el caso de la izquierda: si se está a favor del aborto, no hay razones objetivas para oponerse a la pena de muerte, porque en el fondo los partidarios del aborto cuando comparan un embarazo no deseado o susceptible de entrar dentro de los criterios que la sociedad ha asumido como buenos para aceptarlo, con el “cáncer”, el “infarto de miocardio” o los “accidentes de tráfico”, caen en la misma inmoralidad en la que caen los partidarios de la pena de muerte cuando aseguran que determinados delincuentes son como un “cáncer” social que hay que extirpar. El aborto es un drama, una violencia consentida, una derrota social sin precedentes pero, por encima de todo eso, es la demostración palpable de que la izquierda tiene una conciencia podrida y de que sus banderas no son más que falsos recursos a la demagogia más rancia.
Opinião - El confidencial

quinta-feira, 5 de março de 2009

Continuação

Coincidência?
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Na noite da próxima segunda-feira (09/03) começa a festa de Purim (em Jerusalém começa na noite de terça, 10/03). O Judaísmo nos ensina que o calendário é cíclico, isto é, todos anos nos reencontramos com as festas, e em cada nova volta temos a oportunidade de reviver e crescer a partir da mesma energia espiritual que influenciou aquele dia em algum momento anterior na história do povo judeu. E Purim, que não foge à regra, tem o seu próprio conjunto de oportunidades especiais.

O livro de Ester pode parecer apenas o relato de uma história que aconteceu com o nosso povo há mais de 2.000 anos atrás. Mas a Meguilá é muito mais do que isso, pois se prestarmos atenção à seqüência de eventos, começamos a notar algumas “coincidências” interessantes. Quando terminamos a Megilá, uma improvável e longa seqüência de eventos, que se conectam desde a primeira palavra do livro até a última, entendemos que na realidade nada foi coincidência. Esta é uma das principais lições de Purim, da mesma forma que fica óbvio no final da Meguilá que nada foi aleatório, que não existiu nenhuma coincidência, assim também nossa vida é tecida como parte de uma maravilhosa tapeçaria Divina, onde tudo acontece com precisão e exatidão milimétrica.

E em cada pequeno detalhe da Meguilá captamos mensagens que nos trazem ensinamentos importantes para a vida. Quando o rei Achashverosh deu plenos poderes para que Haman decretasse a “solução final” do povo judeu, Mordechai pediu, através de um mensageiro, para que a rainha Ester implorasse ao rei pela vida dos judeus. Mas a resposta de Ester foi desanimadora, pois ela não quis aceitar o pedido de Mordechai. Havia uma lei que, caso alguém fosse à sala do rei sem ter sido chamado, poderia receber imediatamente pena de morte, a menos que o rei estendesse seu cetro e permitisse a pessoa viver. Ester respondeu que no momento não poderia fazer nada pelo povo judeu, teria que aguardar ser chamada pelo rei, pois caso contrário não teria quase nenhuma chance de sair viva. Mordechai não se abalou com a recusa de Ester e novamente enviou-lhe uma mensagem, mas desta vez muito mais dura: “Mordechai mandou responder a Ester: ‘Não imagine que, por estar na casa do rei, você vai escapar do destino de todos os outros judeus. Pois se você permanecer calada neste momento, o socorro e o alívio para os judeus virão de alguma outra fonte, e você e a casa de seu pai perecerão’ ” (Ester 4:12-14).

Que resposta foi esta que Mordechai mandou para Ester? Ele por acaso disse que Ester era a única esperança do povo judeu? Ele disse que ela deveria tentar alguma coisa, não importava quais seriam as consequências, mesmo que o risco fosse a morte dela? Obviamente que não. Ele estava dando um recado que tocou diretamente a alma de Ester. É como se ele estivesse dizendo: “Ester, se você não fizer isso pelo povo judeu, alguém vai fazer. Pois D'us não precisava de você para que o povo judeu possa ser salvo, afinal o povo judeu tem um objetivo a cumprir no mundo e D’us o salvará com ou sem a sua ajuda. A única pergunta, Ester, é esta: você vai optar por cumprir o seu papel de escrever a próxima página da história e ser contada entre aqueles que escolheram cumprir o papel pessoal para os quais foram criados, ou vai perder para sempre esta grande oportunidade? Ester, talvez a única razão de você ter se tornado rainha foi para este momento!”

Explica o rabino Chaim Levine que Mordechai estava ensinando para Ester, e também para nós, um princípio básico do judaísmo: não existem coincidências, tudo é parte de um grande plano Divino, e cada um de nós foi escolhido para cumprir um papel específico na história do mundo. Temos o livre arbítrio para escolher se queremos viver e alcançar o nosso potencial, deixando para sempre a nossa contribuição e o nosso nome escrito na história do mundo. D’us pode fazer sozinho os milagres acontecerem, e assim o fez em várias ocasiões da nossa história, como no caso da morte repentina de Stalin. Ensinam os nossos sábios que “muitos são os mensageiros de D’us”, isto é, D’us tem o mundo inteiro à sua disposição para que Sua vontade se cumpra exatamente como Ele decretou. Mas muitas vezes D’us quer nos dar o mérito de participarmos como “sócios” no encaminhamento do mundo em direção ao seu propósito. A nossa escolha é aceitar nosso “papel” ou ignorá-lo.

Ester não precisou ouvir mais nada, ela entendeu bem o recado de Mordechai. Deste momento em diante Ester recebeu sobre si a responsabilidade de salvar o povo judeu. Ela pediu para Mordechai instruir o povo judeu a se arrepender e jejuar por 3 dias, aumentando assim os méritos do povo e auxiliando para que sua missão fosse um sucesso. Fora os preparativos espirituais, Ester também fez seu esforço nos assuntos materiais, arquitetando uma armadilha perfeita para derrubar para sempre Haman e cancelar seus decretos malignos. Os esforços deram certo, o povo judeu foi salvo, e Haman e sua família foram apagados da história. Ester cumpriu tão bem seu papel no mundo que um dos livros do Tanach (Bíblia judaica) leva o seu nome: Meguilat Ester.

Purim nos ensina muito mais do que apenas uma bela histórinha com final feliz. Nos ensina que, no contexto da nossa própria vida, todos nós somos como Ester. Em Purim nos recordamos da nossa responsabilidade de focar nossas energias no jogo da vida. Temos que olhar as ferramentas que D’us nos deu e canalizá-las no cumprimento do nosso papel, pois estas ferramentas e forças especiais foram colocadas dentro da alma de cada um de nós. Em Purim, temos que nos perguntar: Que diferenciais me foram dados por D’us? Como posso usar esses pontos fortes no contexto do meu trabalho espiritual? Como posso preencher o meu potencial da melhor maneira possível?

Os cabalistas dizem que cada pessoa tem seu nome escondido em algum lugar da Torá. A Torá é a maquete do mundo, e cada um tem uma participação neste projeto. As pessoas que realmente conseguirem viver em sintonia com a sua alma, que buscarem em cada instante atingir seu máximo potencial, vão saber exatamente onde encontrar o seu nome na Torá.

SHABAT SHALOM e PURIM SAMEACH

Rav Efraim Birbojm

terça-feira, 3 de março de 2009

Continuação - Raúl Castro e suas mudanças

La reorganización implica el cambio de once ministros y la fusión de cuatro carteras en otros dos nuevos ministerios, así como la salida del gobierno de uno de los doce vicepresidentes del Consejo de Ministros, Otto Rivero.

De acuerdo con la nota oficial, se acordó "liberar al compañero Felipe Pérez Roque de sus responsabilidades como ministro de Relaciones Exteriores y promover al actual viceministro Bruno Rodríguez Parrilla para ocupar ese cargo".

El hasta ahora ministro de Economía, José Luis Rodríguez, era también vicepresidente del Consejo de Ministros, y los dos cargos pasarán a ser responsabilidad de Marino Murillo, hasta ahora ministro de Comercio Interior.

Se fusionan los Ministerios de Comercio Exterior y el de Inversión Extranjera, que son puestos bajo las órdenes de Rodrigo Malmierca, y los de la Industria Alimenticia e Industria Pesquera en una sola cartera, a cargo de María Concepción González, ex miembro del Secretariado del Partido.

Al frente del Ministerio de Ciencia y Medioambiente fue nombrado José Miyar Barrueco, hasta ahora secretario del Consejo de Estado. También sufren cambios los Ministerios de Finanzas y Precios, Comercio Interior, Trabajo, Industria Sideromecánica.
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El año perdido

Por Ricardo Carreras Lario

Raúl Castro.
Un año después de que el general Raúl Castro asumiera la presidencia del país, los cubanos no perciben cambios que mejoren su situación. Escasísimas reformas económicas, la acostumbrada falta de libertades e intensos esfuerzos internacionales han marcado este primer año del mandato del hermano de Fidel.
Raúl Castro asumió oficialmente la presidencia de Cuba el 24 de febrero de 2008. Prometió "cambios estructurales" y la supresión de "prohibiciones absurdas" impuestas a los cubanos durante décadas. Hoy, tras un año como Jefe del Estado, el hermano de Fidel ha desilusionado a los ciudadanos. Bajo un finísimo barniz reformista asoma la madera del mismo modelo represor.

Las elecciones siguen siendo una farsa, no existe todavía indicio alguno de apertura ni de avance hacia los derechos políticos, económicos y sociales para los cubanos. No hay partidos legales, sigue el férreo control político bajo el mandato del partido único. El general no ha cedido ningún espacio a aquellos que no comparten sus ideas, o más bien sus intereses.

La represión sigue igual de presente en todas las provincias de la isla. La libertad de prensa continúa siendo un concepto abstracto, por la persistencia del monopolio oficial sobre los medios de comunicación, controlados por el Régimen. Según denuncias de Reporteros sin Fronteras, actualmente hay 23 periodistas presos, de los cuales 19 cumplen en marzo su sexto año de injusta reclusión, junto a los demás presos de la Primavera Negra de 2003. El número total de prisioneros políticos se calcula en torno a los 200. A los familiares de los reos que se encuentran en delicado estado de salud se les sigue negando el acceso a los diagnósticos médicos. Hay incluso pasos hacia atrás, como el intolerable bloqueo de transferencias humanitarias privadas por parte de españoles a las Damas de Blanco –familiares de los presos de conciencia–, que comenzó en septiembre de 2008, tras una reflexión del Convaleciente en Jefe.

Raúl Castro mostró en un principio intenciones de hacer alguna apertura económica de peso, pero muchas reformas han quedado paralizadas –según sus mismas declaraciones– por las cuantiosas pérdidas económicas generadas por el paso de tres huracanes en la segunda mitad de 2008 y la crisis mundial. Extraña lógica ésa: el agravamiento de la situación debería ser un acicate para acelerar las reformas, no una excusa para mantener el sistema económico más ineficiente de América.

Entre los cambios que sí se han llevado a cabo se encuentra la liberación de la venta de teléfonos móviles, computadoras y otros electrodomésticos, así como la autorización a los cubanos a entrar en hoteles de lujo. El problema está en que, con un salario base de 12 euros mensuales, la inmensa mayoría de ellos no puede tener acceso a cualquiera de esos productos y establecimientos. En Cuba, igual que hace un año, tan sólo dos o tres de cada 100 personas tiene teléfono móvil, y el acceso a internet es limitado y censurado. El último gran avance han sido las recientes palabras de Raúl Castro en las que decía que, tras cinco décadas de hacer de perro del hortelano, el Estado permitirá a los cubanos que reparen sus propias casas... como puedan.

En julio pasado se decretó la entrega de tierras ociosas y se anunció la concesión de licencias operativas de transporte a particulares. También se notificó retóricamente la suspensión del igualitarismo y los techos salariales. Se han promovido leves cambios retóricos, meramente de forma y no de fondo. Proyectos de reformas que pueden dar imagen de cambio pero que no han modificado la realidad económica de los cubanos, porque el sistema es el mismo que hace 50 años.

Política exterior

En lo referente a la política exterior, Raúl Castro ha buscado desesperadamente consolidarse, obtener legitimación externa y lograr una buena imagen a escala internacional. Días después de su llegada al poder firmó dos pactos de Derechos Humanos de la Organización de Naciones Unidas. Sin embargo, al día de hoy todavía no han sido ratificados ni, mucho menos, puestos en práctica.

En 2008 recibió a los presidentes de Rusia y China. También viajó a Venezuela, en su primera visita oficial, y a Brasil, a la Cumbre de Costa de Saúpe. Durante los dos primeros meses de este año se ha reunido en La Habana con los presidentes de Guatemala, Panamá, Argentina, Venezuela, Ecuador y Chile. En enero visitó Rusia, Angola y Argelia.

Ha lanzado una ofensiva de relaciones internacionales sin atender los problemas de casa. Pero, lamentablemente, pasar revista en Moscú o recibir a un mandatario internacional no resuelve los graves problemas económicos que asfixian a los cubanos, ni da a éstos los derechos y libertades que tienen conculcados desde hace más de medio siglo.

Su discurso conmemorativo del 50 aniversario de la Revolución fue duro como el granito. Un muro de retórica de búnker en el que se estrellaron las últimas esperanzas de auténtica reforma que podían quedarle al pueblo cubano.

En resumen, ha sido un año tristemente perdido para los cubanos. El régimen castrista sigue caracterizado por la promoción de tres emes: miedo, mentiras y miseria. El esperanzador futuro de Cuba sigue secuestrado por un régimen tan decrépito como insostenible que prolonga su inevitable desmoronamiento.

La oposición democrática se extiende poco a poco por toda la isla. La capa de hielo sobre la que se sostiene la dictadura se quiebra. Sólo queda saber cómo y cuándo sucederá. Los que amamos a Cuba deseamos que sea pronto, que los protagonistas sean los cubanos y que el agua de libertad que nazca del deshielo no se tiña con sangre.


RICARDO CARRERAS LARIO, presidente de Solidaridad Española con Cuba.